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Dose dupla de michael moore

04 Nov 2003

Foi quase coincidência, mas no mesmo dia em que eu terminei de ler Stupid White Men – Uma Nacão de Idiotas, eu aproveitei para pegar a última apresentação nos cinemas de São Paulo do documentário Tiros em Columbine, escrito e dirigido pelo mesmo autor do livro.

O livro superou todas as minhas expectativas. Eu, que me julgava uma pessoa informada acerca da suposta eleição de George W. Bush, julgava que as irregularidades ocorridas estavam na linha daquelas manipulações de mídia que elegeram Fernando Collor. Entretanto, o livro traz uma série de fatos e números (com fontes fartamente documentadas) que não deixam dúvida: esta eleição foi uma fraude completa, um verdadeiro golpe de estado, ponto.

Tal constatação é o ponto de partida para um raio-x detalhado de tudo o que Michael Moore vê de podre nos EUA de hoje – indo dos republicanos aos democratas, mas sem deixar de passar por certas atitutdes mesquinhas do povo americano, e mesmo pelo candidato da “terceira opção”, que Moore apoiou praticamente até o fim da eleição. Mesmo que seja difícil concordar com tudo o que o autor diz, o espírito é incontestável.

<img src=”img/blig/tirosemcolumbine.jpg”align=”left” border=”2”>Já o filme tem alguns aspectos interessantes – a começar por ser um caso raro de documentário de longa metragem sem efeito sonífero. Assim como o livro, ele parte de um fato isolado (o massacre ocorrido na escola em Columbine) para abordar questões mais amplas envolvendo armas e o povo americano.

Mas há uma diferença fundamental: no filme, Moore não assume o tom panfletário do livro. Sua opinião só se faz perceber quando ele mesmo se torna objeto de estudo. Na maior parte do tempo, o filme mostra os diversos lados de cada questão – claro, qualquer pessoa com um mínimo de bom-senso percebe o recado, mas isso fica a critério do espectador.

O melhor de tudo: as contradições (por exemplo, as estatísticas envolvendo fatalidades com armas de fogo) não são varridas para debaixo do tapete. Elas são desnudadas como contradições (mesmo que isto prejudique a missão pacifista de Moore), e o julgamento fica a cargo do espectador. Tal respeito à inteligência do público numa sala de cinema é cada vez mais raro, e só isso já justifica os elogios e prêmios que o filme recebeu.

Claro, as questões tratadas fogem completamente da nossa realidade – a equação das armas e da violência tem muito mais variáveis por aqui. Mas os sintomas desta questão nos EUA certamente se fazem sentir por aqui – seja pela influência cultural, seja através das conseqüências políticas e econômicas desencadeadas ao redor do mundo por qualquer crise que por lá se desenvolva.

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