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A Matemática dos Vampiros

01 Nov 2006

Outro dia chegou a uma lista de discussões da qual participo a notícia de que um cientista teria “provado matematicamente” que vampiros não existem. Como estudante de matemática de plantão, fiz a elocubração que se segue:

Seja m o mês atual (o mês 0 foi aquele em que, por algum motivo arcano, surgiu o Conde Drácula). Sendo os vampiros imortais, e supondo que cada um morda apenas uma pessoa por mês, temos que a quantidade de vampiros no mês M é dada pela função abaixo (exponencial, para os íntimos):

q(m) = 2m

A base é baixa, mas progressão geométrica é que nem coelho (ou: coelho é que nem progressão geométrica). Observe:

q(0) = 1 q(1) = 2 (o Drácula mordeu alguém no mês 1) q(2) = 4 (o Drácula e o cara mordido no mês 1 morderam uma pessoa cada) q(3) = 8 (cada um dos 4 mordeu um, and so on…) … q(10) = 1024 (o vilarejo foi pro saco, em menos de 1 ano… mas ainda assim parece que dá pra segurar) q(11) = 2048 .. q(24) = 16.777.216 (em 2 anos, foram uns 2% da população mundial na época)

O senso comum diz que a humanidade ainda vai ter algum tempo, mas aqui é que entra o “poder coelhal” da exponencial – olhe o que uns poucos meses fazem:

q(25) = 33.554.432 q(26) = 67.108.864 q(27) = 134.217.728 q(28) = 268.435.456 q(29) = 536.870.912 q(30) = 1.073.741.824

Ou seja, em 2 anos e meio (2,5 x 12 meses = 30 meses) os vampiros superam a população mundial estimada (aliás, o artigo deve ter trocado as bolas, porque, “coincidentemente”, população mundial = q(29)-1 – provavelmente o artigo original não considerava o próprio Drácula e o jornalista confundiu cálculo com estimativa).

É o mesmo motivo pelo qual quando alguém vai tentar te convencer a entrar pra Amway / Herbalife / etc. você pode estar certo que a pessoa está mentindo: o único jeito de alguém ganhar as cifras que os caras dos pontos intermediários da estrutura alegam faturar é se a população inteira da Terra participar (e mesmo assim ainda falta nego).

Mas, por incrível que pareça, a matemática de colegial ainda tem uma coisa insanamente mais reprodutiva que a progressão geométrica: o fatorial. Aquela continha inocente:

1! = 1 2! = 2×1 = 2 3! = 3x2x1 = 6 4! = 4x3x2x1 = 24

Olha a m@#$@: … 13! = 6.227.020.800 (ordem de grandeza da população *atual*, contando os chineses!) … 24! = +/- 6,20e+23 (ordem de grandeza de 1 mol, i.e., da quantidade de átomos contidos em 12g de carbono) 52! = +/- 8,06e+67 (ordem de grandeza da quantidade estimada de elétrons no UNIVERSO)

Pra arrematar o dia: o mesmo 52! também é a quantidade de possíveis combinações em um prosaico baralho – sim, é da mesma ordem de grandeza da quantidade de elétrons no universo – isso dá um novo sentido para a frase “não faz maço e embaralha direito essa p#$%a”…

Em tempo: um colega aqui do IME alega que há divergências sobre a forma como surgem os vampiros, que eventualmente poderiam alterar este cálculo. Mas mesmo reduzindo significativamente o grau de infecção, o “fator coelho” (assegurado pela imortalidade dos vampiros) garante que das duas uma: ou eles não existem, ou somos todos vampiros.

**UPDATE: **O link para o artigo original estava quebrado (mais uma vez o Último Segundo jogou fora suas URLs antigas), troquei por um mais estável (espero), mas em inglês. Aproveito para dar link para o Physics in Films, site mantido pelo Dr. Costas Efthimiou (o cientista mencionado), no qual ele motiva o aprendizado de física e ciências no geral apontando esse tipo de contradição em filmes e livros.

Comments


Alexandre Higuchi

Alexandre Higuchi

Não sei se você percebeu, mas além de vampiros, acabou de provar que coelhos também não existem, pois seguiriam a mesma fórmula... Aliás, também nao existiriam bactérias, formigas, bois e até pessoas...

Então ou nós não existimos ou então matemáticos tendem a simplificar muito a quantidade de variáveis, pois temos outros fatores como predadores, falta de alimento, falta de espaço, etc etc etc que impedem uma progressão geométrica...

OBS: outra fórmula para representar crescimento é a tal da seqüencia de Fibonacci, que anda na moda hoje em dia...


Willian Cruz

Pô Kojima, mas quem seriam os predadores naturais dos vampiros? Os lobisomens? :D

Mas Chester, tu não entendes nada de vampiros: você só vira um se o sangue deles se misturar no seu (geralmente nos filmes trash isso ocorre ao beber o sangue de um deles).


Chester

Kojima: *eu* não provei nada - quem provou foi o tal cientista, eu só expliquei as contas envolvidas. E cada um desses casos segue fórmulas diferentes: as bactérias seguem um fator diferente de 2, e os outros exemplos não são assexuados, e é preciso levar isso em conta.

Ah, e todos eles têm a taxa de mortalidade, que também inexiste para os vampiros (seus predadores, como lembrou o Willian, seriam os portadores de estacas - quando foi a última vez que você viu um?). Outra coisa: no caso de pessoas também considere que elas ainda podem refrear seus impulsos reprodutivos devido a questões sociais, ao contrário de animais e vampiros.

Mas o diferencial *mesmo* é que todos eles são cercados pelo que se chama de "fator limitante" em biologia de cursinho: uma hora a comida, o espaço, o ar limpo ou algum outro pré-requisito para a reprodução/sobrevivência acaba, e o ritmo geométrico de aumento da população diminui. O único fator limitante para a multiplicação dos vampiros seria a falta de humanos - e, pressupondo que não somos vampiros, eles abundam em 2006, contradizendo a tese inicial (velocidade de reprodução).


Chester

Willian: o último parágrafo trata justamente disto - segundo ele, alguns acreditam que é necessário a mistura do sangue, outros, que a mordida basta. Isso é curioso: os primeiros buscam vampiros mais "científicos", os últimos os consideram criaturas de magia, portanto não-restritos a este tipo de limitação. Em qualquer caso, a imortalidade *e* a alta incidência de infecção (é razoável que, ao menos uma vez por mês, o vampiro morda de forma a efetuar o tal contato) garantem a vampirização do mundo *pelo menos* neste ritmo.


Chester

Kojima: Fibonacci, assim como as progressões geométricas no geral, são casos bastante particulares envolvendo seqüências infinitas e as séries formadas pro elas. Sua vantagem é poder ser facilmente representado como soma, e ter uma lei de formação recursiva fácil e que dá origem a várias demonstrações gráficas interessantes.

No entanto, a soma de Fibonacci, em particular, não modela este problema, e não posso usar séries infinitas no geral, já que nem todas elas "dão infinito". Ex.:

1 + 1/2 + 1/4 + 1/8 + 1/16 + 1/32 + 1/64 + ... = 2

Mas eu não vou esticar os assuntos torturando os leitores com Cálculo IV, ninguém merece isso... :-)



Alexandre Fugita

Alexandre Fugita

Ei Chester, gostei muito do texto! Eu tinha ouvido falar disso no podcast Buzz Out Loud e realmente achei divertido. Agora vc traduziu para números com um toque coelhal, hehe!

Só uma coisa: o fator limitante talvez não seja a falta de humanos. De repente os movimentos migratórios de vampiros não contemplam boa parte da área do globo terrestre e eles ficam restritos àqueles lugares que vimos em filmes: escuros e fantasmagóricos. Ou ainda, como mostrou "Os Simpsons" em um episódio passado, todos somos vampiros, hehe!

No final a teoria é bem fundamentada. Só um matemático (vc) e um geek (eu) pra se divertir com isso mesmo, hehe!


Alexandre Kojima Higuchi

Alexandre Kojima Higuchi

Ahn...

E que tal a CRUZ, que nem mesmo o Willian CRUZ lembrou? Ou então a água benta? E se um padre benzesse o MAR, assim o oceano inteiro viraria veneno de vampiros?

Aliás, onde entra o *SOL*, que está presente cerca de 12 horas por dia, no mundo inteiro e é o melhor bactericida de vampiros que existe?

Como disse, matemáticos tendem a simplificar a quantidade de variáveis envolvidas...


Chester

Ai, ai, Kojima...

O sol só é problema para vampiros que saem de dia - duvido que sejam a maioria, aliás, quantos fazem essa besteira? Sobre a cruz e a água benta, qualquer habitué dos anos 80 que tenha assistido "A Hora do Espanto" sabe que "você tem que ter fé para estas coisas funcionarem". Com a quantidade de pessoas com "credibilidade de fé" existentes no mundo de hoje, dificilmente se produziria água benta numa velocidade razoável (e não vou comentar o benzimento do oceano, soaria ofensivo).

Finalmente, qualquer outro detalhe besta que você escolha pra aporrinhar está fugindo completamente do ponto central da questão: nada que alegue viver tanto tempo (potencialmente a eternidade) pode se reproduzir de maneira tão desenfreada assim.

Ah, sobre a última gracinha, a verdade é que são os engenheiros (em sua maioria) que se apegam demais a detalhes irrelevantes para os humanos normais - justificando sua fama de chatos supremos e fazendo com que raramente sejam chamados para as festas legais... :-P


Alexandre Kojima Higuchi

Alexandre Kojima Higuchi

Sobre os detalhes "bestas", o proposito era mostrar que sim, existem muito mais fatores e que os mesmos não estão equacionados...

O que me preocupa, brincadeiras à parte, é que o tal professor fez essa estudo para desbancar outros estudos, que segundo ele "trabalhos pseudo-científicos sobre esse tema levam o público a acreditar na existência dos vampiros".

Na minha opinião, trabalhos científicos sem profundidade, como é o caso do trabalho dele, contribuem tanto quando os tais "pseudo cientificos".

Espero realmente que ele tenha feito isso apenas para dar uma de espirito de porco e colocar lenha na fogueira, sabendo que o trabalho dele também nao é válido.

Um motivo dessa vez sério pelo qual eu não compro essa prova matemática:

Se eu fosse um vampiro, eu seria superior ao resto da populacao. Ser superior sempre é legal. Porém se *toda* população se tornasse superior, eu perderia minha superioridade relativa. Portanto, não é vantagem para mim que todo mundo vire vampiro.

Também não gostaria de ser um vampiro sozinho. É mais legal quando tenho um pequeno grupo para compartilhar os poderes. Esse grupo também não estaria interessado em que todos virassem vampiros.

Dessa forma, poderiamos instituir um esquema semelhante ao da Academia Brasileira de Letras: só entra membro novo quando um morre.

Para dar um embasamento pseudo-cientifico para essa minha argumentação, isso na verdade se chama "Teoria dos Jogos", e se aplica, por exemplo, no estudo de monopólios e oligopólios.

Quanto a engenheiros serem chatos supremos... Estou trabalhando com vários deles atualmente e de fato é dificil ter um assunto bacana na hora do almoço...


Chester

Kojima,

Não sei dizer até que ponto o trabalho do tal cientista foi de fato publicado - vale lembrar que o fato de ele ser cientista não significa que quando ele preenche um cheque está fazendo um documento "científico". Tampouco posso imaginar a real intenção dele (mas me parece muito razoável que seja mostrar, pelo absurdo da coisa, que não vale a pena queimar pestanas procurando vampiros - na linha do Flying Spaghetti Monster).

Tampouco vou entrar em detalhes sobre o seu motivo - assim como no post anterior, eu posso questionar, você pode desenterrar outros argumentos. Não vamos chegar a lugar algum, porque, ao contrário de temas verdadeiramente científicos, não há uma base axiomática aqui para que se construa qualquer coisa. Acima de tudo: eu não botaria Teoria dos Jogos no meio - além desta área ser um pouco mais complexa do que isso, ela anda virando o "Nietzche das exatas", i.e., qualquer coisa nego joga o Nietzche pra "fundamentar", o que mina a credibilidade até de quem cita com conhecimento de causa.

Finalmente, não vou arriscar a dizer se o trabalho tem profunidade ou não sem ter lido o mesmo. O que eu posso afirmar é que, enquanto material pra piada, é bom. Ou melhor, era - essa discussão seguramente acabou com a graça. Scott Adams explica.


Caneta

Demorei demais pra ver esse texto, as discussões legais jah foram!!!

Mas para complicar um pouco mais vou concordar com meu colega leitor JunZ....ninguém sabe de quanto em quanto tempo um vampiro precisa se alimentar...

e digo ainda mais, vcs são todos burros, quem disse que vampiros soh se alimentam de sangue humano??? eles não podem se alimentar de outros animais não??? e ainda mais, deles mesmos???

e vai mais uma pergunta...se de fato quando uma pessoa eh mordida ela vira um vampiro, quantas delas não viraram pó após serem atacadas no meio da noite e deixadas no meio da rua até que o sol surgiu e elas viraram pó

por estes e outros argumentos, acho que a existencia de vampiros é um fato totalmente aceitavel =p

[]'s



Nanni

Nunca soube que sempre que um vampiro se alimenta transforma a pessoa em outro vampiro. Sinceramente, não sou uma fanática por vampiros nem nada disso, só estou querendo dizer que não há cálculos matemáticos que possam provar a existência ou inexistência de criaturas místicas. Vampiros, bruxas... tudo isso é uma questão de crença. Eu, particularmente, creio em muito em Deus e tenho a mais absoluta certeza que ele existe, porém não tem qualquer prova concreta sobre a sua existência. Não estou afirmando que vampiros existem ou não existem, mas acho que o homem é cego pelas ciências e ignoram qualquer coisa que desafie a lógica. Para mim nem tudo é matemática, física e química. Existe muita coisa entre o céu e a Terra que o homem nunca vai ser capaz de explicar. Eu acho que as pessoas têm medo quando alguma coisa anormal acontece e logo querem explicações científicas para isso. Não estou dizendo que temos que ser alienados, como a Igreja Católica queria que fóssemos há séculos atrás e punia quem se atrevesse a discordar de suas crenças, mas as pessoas poderiam ter a mente mais aberta em relação ao sobrenatural. Vampiros existem? Nunca saberemos dizer. Mas algumas pessoas acreditam e temos que respeitar. Há quem acredite em vampiros, há quem acredite em fadas e duendes, e há, como eu, quem acredite em Deus.


Lamothe

Bom, deixo esse recado revelador a todos os fãns de vampiros que aqui comentaram...

Eu adoro coisas sobrenaturais e com o lançamento da série "Twilight", as pessoas começaram a se interessar por esses tais vampiros de sangue...

Eu fui tentar explicar o vampirismo cientificamente, e consegui! Para a alegria de todos, eu posso provar. Em 1986, na Universidade de Ohio, nos EUA. Um cientista explicou o vampirismo de forma simples e prática:

1- O vampirismo é o subproduto de várias doenças raras em conjunto, isso é fato.

2-As doenças são: Anemia, essa doença comum pode causar a ânsia por sangue pela falta de glóbulos vermelhos no organismo.

3- A anemia também causa a Gengivite, uma doença dentária que diminui a gengiva fazendo com que os caninos pareçam maiores.

4-A anemia em casos agudos ( graves ), pode causar uma doença chamada protoporfiria eritropoiética, que causa a hipersensibilidade na pele, ou seja, ela causa queimaduras em contato com o sol.

5- Todas essas doenças funcionam como um efeito dominó, causando no doente e/ou vampiro, um surto psicótico, fazendo com que possam atacar pessoas pela sua sede.

Essa doença é muito rara, mas existe sim. Esses são os verdadeiros vampiros e não aqueles fanáticos que implantam dentes e compram capas pretas...

Espero que tenha ajudado a todos, Lamothe.



pashimira

Tudo bem, digamos que... se cada humano que um vampiro morda não morra, e sim entre em choque por alguns dias e depois volte ao normal, basicamente como uma mordida de cão, digamos assim, e que para cada humano que vá ser transformado em vampiro, precise estar morrendo com as batidas tão fracas a ponto de não responder e tenha que tomar o sangue do vampiro que o mordeu, então provaria que sua matematica está errada e que os vampiros existem, pois não é necessário matar uma pessoa para alimentar- se somente deixa-la inconsiente e quando esta acordar estará tudo normal.

Chester

Ahn... o que você está dizendo é "digamos que a lenda funciona de um jeito completamente diferente do que foi contado nos últimos séculos, isso 'provaria'[*] que a 'minha'[*] matemática está errada". Nesses termos eu concordo. :-)

É como se perguntassem "quantas maçãs eu tenho se eu juntar duas maçãs com três maçãs", eu respondesse "cinco maçãs" e você dissesse "ah, suponha que as duas maçãs não eram maçãs, eram caixas de maçãs com vinte maçãs cada, sua resposta está errada!...

([*] = não vou questionar o que é "provar" aí nem o fato de que, como diz o texto, não fiz matemática alguma, apenas expliquei a de um cientista mais proeminente do que eu)


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