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Eleições 2010 – em resumo: 43, 430, 133, 4340, 13 e 43!

01 Oct 2010

Sei que está um pouco em cima da hora, mas fiz posts sobre meus candidatos em 2002, 2004 e 2008 (em 2006 eu estava ocupado com o Golpe), e, para não perder o costume, chegou a vez de 2010. Para compensar o atraso, dessa vez vou falar de todos os cargos.

Era de se esperar que a idade me trouxesse um pouco mais perto do conservadorismo – o que não aconteceu. A sabedoria popular diz que “se você não foi comunista até os 30, é um insensível. Se continuou sendo depois dos 30, é um insensato”, e creio que meu viés é para o segundo grupo. Claro, marxismo passa longe há tempos, mas ainda acredito que o governo deve atuar coibindo os excessos do capital e, ao mesmo tempo, estimulando-o e gerenciando o caos quando as inevitáveis crises ocorrerem. Centro-esquerda para uns, centro-direita para outros, abraço a primeira alcunha, que me deixa dormir melhor à noite.

Essa visão explica minha relação de longa data com o PT. Sempre admirei duas características nele: o compromisso em ser a “reserva moral” da política (apoiado no baixo índice de denúncias de envolvimento de integrantes com corrupção e afins) e o bom senso de, quando governo, fazer na prática o que o PSDB propõe na teoria, isto é, uma social-democracia com o mínimo necessário de compromisso para permitir a governabilidade. Isso tudo meio que caiu por terra com os mandatos presidenciais.

Talvez eu tenha mudado, mas o partido mudou muito mais do que eu. Não me considero “traído” como tantos, e reconheço que ainda há quadros muito bons. Tampouco nego que foram realizadas transformações profundas, em particular na esfera federal. Mas é evidente que o PT hoje passa longe da reserva moral e que a falta de escrúpulos nas alianças permite até afagos na família Sarney. Fica cada vez mais claro que a continuidade no poder só daria razão aos que defenderam o caminho torpe ali dentro. Continuísmo é ruim para o país, mas é pior ainda para o partido.

Se alguém ainda duvida que o terceiro mandato seria danoso para a legenda, basta observar o que dois deles fizeram com o PSDB – hoje uma sombra decrépita do movimento de reação à crise de valores do PMDB que o originou. A isso posso juntar minha desconfiança da autonomia/capacidade de Dilma, e tenho na a insatisfação com a tal “transferência de prestígio” a cereja do bolo para descartar qualquer possibilidade de votar nela para presidente.

Infelizmente, esse estado de coisas do PSDB (sem contar a aliança com o “Democratas”) tira o Serra da jogada para mim (uma pena, já que minha histórica antipatia por ele cada vez mais se revela puro pré-conceito – muita gente de bem diz que ele, pessoalmente, não é nada do que pregam). Plínio é anacronismo demais pro meu gosto, o que me levou a considerar (e, por fim, votar em) Marina Silva (43), do PV.

O Partido Verde deveria ter sido a primeira opção avaliada, levando em conta minha simpatia pelos verdes no Brasil e no mundo (que, ao contrário do que muitos pensam, não defendem “as plantinhas”, e sim modelos sustentáveis de desenvolvimento, nos quais leva-se em conta sim que as pessoas têm que colocar comida na mesa, mas que isso não pode ser à custa da saúde ou do futuro da humanidade) e também o fato de que eles já oferecem Ricardo Young (430) como uma excelente opção para o Senado. Este último, aliás, complemento com Marta Suplicy (133) – que tem currículo e serve para reiterar que não creio que o PT “se perdeu”, apenas não deveria assumir o terceiro mandato presidencial.

Confesso que declarações ambíguas de Marina sobre assuntos do meu interesse, como a liberdade de culto (em particular dos sem-culto, i.e., ateus), a legalização do aborto, a descriminalização da maconha (dois itens cuja correlação com melhorias nos mais diversos índices sociais me parece óbvia) e o casamento gay (um direito fundamental num estado laico e igualitário) me deixaram com um pé atrás no início. Mas é fato que não se faz campanha no Brasil (país “110% católico”, como disse certa vez João Pedro Stedile) empunhando estas bandeiras com afinco, então relevo um pouco.

No geral o partido tem programa, possui quadros e simpatizantes capacitados para assessorar (isso é tão importante quanto a capacidade do presidente em si), e a candidata tem garra e princípios. Não dá pra pedir muito mais que isso – ainda mais num pleito onde candidato a senador que bate em mulher (Netinho) e candidato a deputado não-alfabetizado (Tiririca) lideram as pesquisas (nenhum preconceito contra analfabetos, mas eles são inelegíveis: é lei, e não é à toa), então fecho com ela.

Para Deputado Federal, o Alê Yousef (4340) foi uma ótima dica do Barba – segue uma linha de transparência online e de botar as cartas na mesa em assuntos como os discutidos acima. Foi chefe de gabinete da Soninha Francine (que eu lamento profundamente não ser candidata) e isso tudo garante a ele meu voto.

Na esfera estadual não estou tão assertivo, mas voto em Aloízio Mercadante (13) para governador. Novamente vale a pena injetar mudança: a política educacional em particular deixou a desejar nesses anos de PSDB. Mercadante promete acabar com a aprovação automática – um câncer de manipulação de dados que eu vi nascer bem de perto quando era programador na Secretaria de Estado da Educação (há quase 20 anos), e que só se fez alastrar até hoje. Quero ver isso.

Me falta um nome para deputado estadual, então minha opção é pela legenda (PV – 43), que, por afinidade ideológica agiria como apoio e bússola moral num governo de estado do PT, e pelos mesmos motivos como oposição consciente ao PSDB, favorito nas pesquisas. Ou ao menos é o que eu espero…

UPDATE: Os últimos posts do blog do FMC (aka Chicão ou Dr. FMC), amigo dos tempos de BBS, me fizeram ver que o voto mais coerente para garantir a “bussola moral” ao governo estadual seria no PSTU (50), e é com eles que eu vou. Ou seja, minha “cola” atual é 43-430-133-4340-13-50!

Comments


Paulo Junqueira

Paulo Junqueira

Olha Chester, seu ponto de vista é, no mínimo, curioso pra mim. Pois ver que que você é um PTista quase reformado no âmbito presidencial, mas não estadual, me faz questionar sua aprovação junto ao partido. Eu tb acreditei neles. Vi no movimento partidário, e não no Lula, uma forma de mudar o país - trazer igualdade social, mesmo que em um capitalismo republicano pseudo democrático que se fazia, à época. Não creio em ação do personagem, mas da máquina partidária.

Não reprovei o FHC, só questionei sua morosidade frente aos problemas do final do exercício. O caminho estava feito - os economistas fizeram a lição de casa. Programa rodando, sem bug. Todo mundo estável. Faltava o lado social, e até liberal, que o PSDB da época não parecia concordar. Eu acreditei em um fome-zero com educação: ensinar a pescar. Este bolsa família é uma vergonha, é um vício, uma droga sintética muito bem planejada. Coca-cola + Mc Donalds. A gente come e nem sabe pq...

É muito louvável a intenção da Marina em defender o conceito ambiental sustentável. Talvez eu esteja incrédulo e errado, mas não creio, de novo, em uma promessa salvadora da que passou tempos no partido dos "dinheiro na cueca" e não viu nada. Pra mim tá como o Lula: não viu nada? Duvido. Quando deu a bosta, saiu.

A gente via o povo fazendo esquema na secretaria da educação e num denunciava ninguém. Não existe santo. E se é pra escolher alguém, não quero os falsos profetas terroristas, nem os pseudo-moralistas e nem o Mr. Burns (#plínio). Fico com o administrador que deu ao menos algum resultado pra gente.

BTW: Vem em casa de novo. Abrax.

Chester

Paulo, my friend:

Concordo com a linha de "os economistas fizeram a lição de casa", pois o Brasil tem um projeto econômico que não deve ser modificado por qualquer tendência que seja, e também com o fato de que o partido deveria se sobrepor a figuras individuais, em particular no âmbito federal.

Sobre o FHC, não me passa o estrangulamento da economia que ele fez durante o terceiro e quarto ano de mandato, mantendo a moeda em falsa paridade e quase colocando o trabalho do Plano Real a perder, tudo em nome do segundo mandato. Não consigo ver diferença entre isso e os fuscas dados de presente em troca dos "cinco anos para Sarney" (que além de atrasarem a democracia plena por mais um ano, ainda sincronizaram as eleições presidenciais com a copa do mundo).

Não vejo promessa salvadora em Marina, apenas um plano de continuar o que está certo e corrigir o que está errado - para o qual é preciso renovação de quadros sem retrocesso ideológico, e daí que Marina + PV se tornam opções viáveis.

Sobre "a gente via o povo fazendo esquema", fale por você. Confesso que eu era muito novo nessa época - talvez tenha me faltado a perspicácia, ou eu estivesse muito afetado pelas neuras do fim da adolescência, ou ainda estivesse incomodado demais com a influência de militares e pelegos nas coisas pequenas para enxergar "esquemas" maiores, mas não sei se teria sido conivente com alguma coisa mais significativa, ainda mais que eu já não amava muito a idéia de trabalhar para o governo.

O máximo que eu via eram as tentativas deslavadas de apresentar os dados de aprovação para convencer que o nascente "ciclo básico" de aprovação automática era uma boa idéia - mas nada que uma agência de publicidade não faça. Também ouvia falar em falcatruas com licitações (mas não mais do que se ouve falar fora de lá), e isso só sacramentou minha intenção de seguir com a iniciativa privada até o fim dos meus dias, dado que tenho a opção.

Finalmente, "Mr. Burns" se aplica mais ao Serra - o Plínio é o Abraham Simpson (e a Dilma é qualquer uma das irmãs da Marge, só pra constar). :-D

Abraço!


Cristiano

O que me faz NAO votar na Marina é exatamente essa veia religiosa dela, quem a cerca sabe que ela não terá dúvidas na hora de escolher entre O QUE EU ACHO MELHOR (aborto, uniao homossexual, liberacao da maconha, etc) e "o que esta escrito na biblia".

A tal "onda verde" a qual ela tanto se refere essa semana, nada mais é do que a transferencia de PARTE do eleitorado religioso de TODAS AS CRENÇAS (catolico e crentes em geral) que até então votava na Dilma MAS q está sendo insistentemente lembrada todo culto / missa pelos seus padres / pastores para "votarem em quem respeita as leis de deus".

O PT, nessa ultima semana sentiu o efeito e reuniu a cupula de TODAS as entidades religiosas a fim de correr atras do leite derramado. O mais engraçado de tudo foi ver a Dilma agradecendo "a deus" sua presença no debate ontem :oP

Assim, como voce (ah, essa 5a serie), gostaria de ver a mudança de poder no estado e brasilia. Mas tenho que admitir que chega a doer o figado só de pensar em votar no Merdandante e no Serra.

Acho que vou aproveitar que não tem lei seca esse ano e vou votar bebado. :o)

abracao