As duas coisas mais interessantes que assisti em tela grande nos últimos tempos têm pouco em comum.
Uma delas foi SpiderMan 2 – um filme hollywoodiano como todos os filmes hollywoodianos deveriam ser: bem produzido, divertido e ponto final. Nada para mudar a sua vida. Quem passou tempo demais “com o nariz enfiado nos problemas conjugais do Homem-Aranha” (vide The Sound, do Derek Kirk), tem o bônus de reviver uma excelente reprodução da melhor época deste folhetim. Independente disto, é diversão para um belo par de horas (claro, para quem não se deixar abater pelas filas enormes e seus impetuosos integrantes).
A outra foi Santa Sangre. É difícil categorizá-lo ou descrevê-lo sem cometer injustiças ou revelar surpresas, mas o filme gira em torno de um jovem circense levado à loucura ainda menino por um ato hediondo cometido pelo pai contra a mãe. Ela reencontra o filho crescido, e passa a usar o sentimento de culpa do rapaz para manipulá-lo em vários jogos psicóticos. O elemento surreal predomina, enfatizado por alguns interlúidos pontuais (tais como, por exemplo, o funeral de um elefante) que podem ser encarados tanto como humor negro quanto como simbolismo localizado.
É um filme fantástico – que eu, tomado por sensibilidade e fadiga extremos, não consegui curtir na hora. Me bateu uma neurose tão forte que saí do cinema sem ver o segundo filme da sessão (o qual, dizem, não faz justiça a este). Só depois de algumas horas é que me “caiu a ficha” da grandiosidade do que havia assistido. Foi um choque tanto para o intelectual quanto para o vilaemense dentro de mim, e não é coisa para qualquer filme fazer.
Apesar do envolvimento do diretor com quadrinhos, o filme me era completamente desconhecido. E assim permaneceria se não fosse por Carlos Reichenback, que viabilizou a exibição do filme. Por mais dificuldades que eu tenha com o tom autocêntrico do seu site (e por menos que eu conheça seu trabalho), é inegável que, não fosse por ele, eu jamais teria conhecido esta pérola – e por isto lhe sou muito grato.