Raramente deixo livros inacabados. No entanto, o indigesto A Voz do Fogo, do Alan Moore, foi um desses casos. Dizem que fica bom lá pelo meio – mas a caminhada é longa, e a vida é curta. Pra piorar, deixou uma seqüela: fiquei cismado com autores de quadrinhos que entram no campo da literatura.
Felizmente, o mesmo quase-ex-amigo que indicou este livro redimiu-se trazendo o ótimo Deuses Americanos. O autor (Neil Gaiman) compartilha com Moore a origem inglesa e o renome enquanto roteirista de quadrinhos com fortes elementos de fantasia, mas voltados a um público mais maduro.
No livro, Gaiman mostra a jornada de um presidiário nos EUA de hoje, cuja libertação o leva a uma série de viagens através dos Estados Unidos, nas quais se coloca em pauta o destino das divindades quando aqueles que nelas acreditam (e que, como é costumeiro na obra de Gaiman, as mantém vivas através de sua fé) deixam suas regiões de origem e se aglomeram em uma terra cujas poucas tradições divinas foram praticamente dizimadas.
Mais ainda, o livro leva o leitor a se perguntar qual seria o verdadeiro altar americano: aquele lugar nas igrejas ao qual os poucos visitantes dedicam moderada atenção, ou aquele aparelho na sala de estar, em torno do qual praticamente todas as famílias mantém vigília silenciosa todas as noites? Questionamentos deste tipo são o cenário através do qual o personagem principal vai redescobrir sua própria origem – e nela, encontrar seu destino. Livraço.
Fonte: Sovi