ATENÇÃO: Links impróprios para escritório (é quase softcore para os dias de hoje, mas não custa avisar.)
Nos anos 50 e 60 proliferou no Brasil um gênero de material pornográfico que consistia em revistas em quadrinhos em preto-e-branco e formato de bolso. Eram os chamados “catecismos” ou “revistinhas de sacanagem”, cujo baixo custo e discrição foram fatores chave para o sucesso.
A primeira denominação era mais comum em São Paulo, e supostamente remete à semelhança de formato entre as revistinhas e os livros de instrução religiosa conhecidos por este nome.
Um dos autores mais populares deste meio era conhecido pelo pseudônimo de Carlos Zéfiro. Ele permaneceu anônimo até pouco antes de seu falecimento, no início dos anos 90, quando revelou seu nome verdadeiro (Alcides Aguiar Caminha) após um gaiato ter reclamado para si o privilégio, no melhor (ou pior) estilo Tourist Guy Brasileiro.
Na década de 80 o Ota já tinha publicado o completo livro O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, no qual o cartunista (famoso por seu trabalho na revista MAD e possuidor de cerca de 200 catecismos de Zéfiro), analisa vários aspectos da obra (e mostra algumas histórias completas). E o disco Barulhinho Bom, da cantora Marisa Monte, era todo ilustrado com cenas de histórias do Zéfiro, isso já mais perto do final dos anos 90. Ou seja, a influência perdurou.
As revistas teriam sido reeditadas em 2005 pela Editora A Ciência Muda, associada à famosa banca carioca de mesmo nome, especializada em quadrinhos antigos. Mas eu nunca vi em banca, o site não existe mais e não consegui nenhum contato, o que leva a crer que, se a coisa foi adiante, não teve âmbito nacional.
Isso tudo nos leva ao site que motivou este post, o Homenagem a Carlos Zéfiro, que disponibiliza para visualização imediata quase uma centena de catecismos. A qualidade da arte e do texto de Zéfiro são pontos polêmicos, mas uma olhada se justifica, nem que seja pela relevância do fenômeno: é surpreendente a quantidade de pessoas que viveram neste período e que confessam ter lido ao menos um catecismo, ou até mesmo lembram do nome do autor.
(só para constar: não, eu não era vivo na época dos catecismos. Em termos de material erótico adolescente, eu fui da era do videocassete, que fica em algum ponto do tempo entre as revistas suecas e a geração eMule/RapidShare.)
Comments
Fernando
Muito obrigado pela informação!
Nasci em 1980 e, portanto, não conheci estas publicações. Entretanto, fiquei impressionado com a qualidade dos desenhos. Além disso, a diagramação e os textos são um reflexo da época, o que torna o material muito interessante.
Seu blog é muito bacana. É bom encontrar um blog útil - 99% deles são criados como uma vã tentativa de obtenção de consultas psicalíticas gratuitas. :-)
Mais uma vez, obrigado!
Chester
Legal você ter curtido. Eu estou no mesmo barco, sou de 1975! :-)
Obrigado pelos elogios, e mantenha contato!
Ary
É impressionante a fama de Zéfiro. Durante anos no anonimato, sob pseudônimos. Hoje é cult e tem várias páginas eletrônicas, livros e artigos dedicados a ele e sua obra. Depois dizem aquela batida frase que o "Brasil é um país sem memória". Em parte não é verdade. Como as coisas mudam.
Barroso
Muito legal reler um dos catecismos do CZ. Obrigado.
João
JUSTA HOMENAGEM!
João
Eu sou de Dez/60. No Rio a gente não usava (pelo menos no meu meio de colegas) o termo "catecismo", a gente chamava mesmo de "revistinha de sacanagem" ou simplesmente "revistinha".
O acesso as revistinhas do CZ era dificil, eu diria raro mesmo. Assim quando alguem aparecia com uma e tirava do bolso aquele pequeno maço de papel já bem manuseado a empolgação era grande (tentem imaginar um tempo sem internet, com a TV em preto em branco que apenas começava a aparecer na casa das pessoas.)
A gente apreciava cada página com grande empolgação. Era algo que se fazia com grande discreção e medo de ser flagrado. Era uma to marginal... subversivo.
Se o felizardo dono da revistinha fosse seu colegão ele até te emprestava a revistinha para voce dar uma olhada com mais calma (rs).
O pessoal mais jovem deve olhar essas revistinhas hoje em dia como verdadeiras peças de museu - e são mesmo. Contudo, o enredo em cada história dessas revistinhas não perdeu nada dca carga eróticas original.