Este livro é escrito por ninguém menos que Tenzin Gyatso, mais conhecido como o Dalai Lama. Para quem não sabe, o título é atribuído a uma linhagem de líderes espirituais do budismo tibetano, e o décimo-quarto e atual Dalai Lama é um integrante bastante peculiar desta linhagem.
Só a sua situação política já seria digna de nota: desde 1959 ele vive exilado na Índia por conta da ocupação do Tibete pela China (que enxerga nele um risco político, entre outras coisas por seu discurso em prol dos direitos humanos e da autonomia tibetana).
No entanto, ele chama quase tanta atenção por ser um dos líderes religosos que mais se interessa pela ciência – nesta época que sinaliza um renascimento do obscurantismo e da ignorância, uma demonstração de humildade, bom-senso e sensibilidade como esta força até os mais céticos a reconher que se alguém merece ser chamado de iluminado, esta pessoa é o Dalai Lama.
Em O Universo em Um Átomo, Sua Santidade explica um pouco do caminho que o levou a colocar frente a frente a ciência e o budismo – ou melhor, a colocar a ciência budista e a ciência ocidental lado a lado, construindo um sistema mais rico e completo, sem concessões ao materialismo fatalista ou à espiritualidade desconexa.
A idéia dele é mostrar que a ciência ocidental pode ampliar os horizontes dos budistas, apresentando a eles uma infinidade de informações sobre o funcionamento da mente humana, do universo e de tudo o que compõe o ciclo sensorial do universo (o Samsara).
Em contrapartida, segundo ele, a espirtiualidade pode ajudar a guiar os cientistas nas questões éticas que envolvem o uso deste conhecimento – uma necessidade crescente, já que tecnologias como a energia nuclear, a manipulação genética e tantas outras evoluem mais rápido do que o discurso sobre as possibilidades e os limites associados ao seu uso.
O texto é um pouco mais denso, em particular quando oscila entre as descobertas da neurociência e os princípios éticos, estéticos e epistemológicos do Budismo usando a filosofia como fio condutor, mas vale o esforço empregado, pois solidifica tanto a visão científica quanto a espiritual.
Se você é daqueles que acredita que a ciência se basta para conduzir o homem à compreensão plena do universo que o cerca, este livro pode trazer uma nova visão. Quem, por outro lado, tem na religião e/ou na espiritualidade a base principal de orientação para estes mesmos objetivos, também pode expandir seus horizontes com ele. Nos dois casos é preciso se despojar um pouco de preconceitos e dogmas – o que por si só já é algo positivo.
Eu já estive nos dois terrenos, e hoje me sinto equilibrado e confortável com uma abordagem interdependente da visão cientificista não-dogmática e de uma espiritualidade ateísta – e ainda assim encontrei muita sabedoria nas palavras do Lama. Excelente livro.