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Coisas que irritam um motorista

06 Mar 2010

Andar de ônibus em São Paulo não é nenhuma maravilha. Mas os piores perrengues não se comparam à soma das pequenas irritações causadas por este esporte coletivo espartano que é possuir/dirigir um carro particular, tais como:

Clássica foto da Faria Lima x JK. Autor: Magno

  • Ficar parado no trânsito (sem poder ler, jogar ou navegar);
  • Morrer em uma grana no seguro e não usar;
  • Morrer em uma grana no seguro, usar uma única vez e ver que no ano seguinte ele aumentou em 50% por causa disso;
  • Pagar IPVA, seguro obrigatório e nem lembro mais quais taxas;
  • Fazer inspeção veicular (mais tempo e dinheiro no ralo);
  • Preço da gasolina (que sobe automaticamente em qualquer crise, mas raramente cai quando está tudo bem);
  • Pagar a mensalidade do estacionamento no trabalho (ou ter que negociar um benefício útil no emprego no lugar disso);
  • Comparar o rendimento do valor do carro num investimento com a depreciação ano a ano dele;
  • Lavar ou mandar lavar (ainda que o fizesse trimestralmente, confesso);
  • Trocar o óleo a cada x km;
  • Trocar pastilhas/filtros/repimbocas/etc a cada y/z/k/m km ou meses (e gerenciar esse calendário todo);
  • Fazer revisão obrigatória (que nunca é na hora, nem perto de casa ou do trabalho);
  • O “barulhinho” que surge do nada e que anuncia que uma hora ele vai te deixar na mão (a pior possível);
  • As vinte opiniões amadoras sobre o barulhinho;
  • As cinco opiniões diferentes dos cinco mecânicos consultados sobre o barulhinho;
  • O custo e o tempo para consertar o barulinho;
  • O retorno do barulhinho (não antes de 4h ou 50KM de distância da oficina);
  • O tempo perdido tentando aprender mecânica de automóveis ao invés de algo mais relevante para a sua vida, na (vã) esperança de ser menos enrolado pelos mecânicos;
  • Fazer rodízio dos pneus;
  • Procurar lugar pra estacionar;
  • Ficar pensando “será que ele ainda está onde eu estacionei?”
  • Pagar estacionamento avulso, ou…
  • …decidir se deixa uma grana para o cara que vai “cuidar” (se pagar, você perpetua a extorsão, se não pagar fica pensando no que vai acontecer com o carro);
  • Encontrar o vidro quebrado, gastando uns R$ 200 por causa de um item de R$ 20 que estava no banco traseiro;
  • Queimar uma grana num CD/MP3 player caro (que pode motivar o item anterior) ou escolher entre música pasteurizada de FM e as mesmas notícias repetidas a cada 15 minutos;
  • Tentar lembrar em que andar/vaga do shopping center você deixou o carro;
  • Andar (ou não) com os documentos;
  • “Efeito estufa” nos dias quentes;
  • Pequenos acidentes – esse item vale por muitos:
    • Discussão loser com o outro Sr. Volante (independente de quem tem culpa);
    • Fazer o Boletim de Ocorrência;
    • Acionar o seguro;
    • Fazer orçamento de conserto;
    • Saber que aquela parte nunca vai ficar exatamente do jeito que era;
  • Vidro elétrico que emperra no pior lugar possível (ex.: não fecha quando você está na rua ou na chuva);
  • Carteira de motorista que vence quando você está totalmente sem tempo para ir atrás (e cuja renovação sempre envolve um novo exame ou burocracia em um lugar totalmente distante);
  • Ser o chato que não deixa o carona fumar ou aturar a aura de nicotina durante o resto da semana;
  • Acordar cedo (ou voltar tarde) uma vez por semana por causa do rodízio – e ainda tentar se enganar com consolos do tipo “ah, hoje eu pego menos trânsito”;
  • Pequenos defeitos que “não vale a pena” terceirzar e você tem que resolver. Ex.: lâmpada do pisca queimada;
  • Ser multado porque não percebeu um desses pequenos defeitos (ou ainda, causar um acidente por conta dele);
  • Pegar uma lombada/buraco e quase sentir na pele a “dor” no carro – além de passar os próximos minutos tenso com a possível falha mecânica decorrente;
  • Pagar pedágio como se fosse um viciado: quantidades cada vez maiores, em intervalos cada vez menores;
  • Ficar “na mão” com uma falha mecânica e não poder simplesmente abandonar o veículo e pegar o próximo (como faria com um coletivo);
  • Se você mora numa rua com feira livre (como os meus pais), acordar de madrugada uma vez por semana para tirar o carro, ou ficar com ele preso até o meio da tarde;
  • Abastecer um mísero dia com gasolina de baixa qualidade e aturar o carro engasgando durante o resto da semana (isso se não tiver que trocar algum filtro ou rolar um defeito ainda mais $ério);
  • Medos: furto, colisão grave, atropelamento, assalto no farol, sequestro-relâmpago, falso bloqueio policial, ficar preso em enchente, respirar poluição sem ter para onde fugir… enfim, medo de viver. Estou fora.

Comments


Dine

Só pra criar a discórida, vou falar das coisas que irritam usando transporte público.

- Não é muito fácil esperando e depois pegar o ônibus/metrô/trem lotado sem conseguir respirar direito.

- Quando tem alagamentos, eles também param e atrasam por isso.

- Dependendo do trajeto, já ouvi pessoas falando que levam em média menos da metade do tempo indo de carro, mesmo com todo o trânsito.

- Medo também dá pra ficar, por estar carregando um HD na mochila, ou de usar seu celular pra acessar a internet ou ouvir uma música. (Obs: já fui assaltada e roubada mais vezes a pé do que de carro. Devo ter cara de idiota. *rs)

- Ao mesmo tempo que vc tá com medo de usar seu celular, algumas pessoas não tem vergonha nenhuma em ouvir aquela música que vc odeia no volume máximo e sem fones. :)

- Ficar pensando no que o colega atrás de vc está carregando no bolso que cresce quando ele encosta em vc! :P

- Ficar sentindo o cheiro do amigo que não tomou banho do seu lado. A minha altura por exemplo é na altura do suvaco da média.

- Pras mulheres, se quiserem ou forem obrigadas a ser "peruas" no trabalho, tem que carregar uma mala a parte com sapato de salto, maquiagem, etc. Fora ter que levar sempre um guarda-chuva.

- Sem ter carro, num dia que vc está atrasado e chovendo, se resolver pegar um taxi vai sofrer pra conseguir um.

- Pra grande maioria o valor da gasolina/seguro/estacionamento não vale a pena, mas não sei se isso é válido pra todo mundo, dependendo do quanto a pessoa usa o carro ou onde mora.

Enfim, a lista foi menor que a sua e bem pessimista, mas acho que é por isso que tem tanta gente disposta a pagar mais caro pra ter esse meio de transporte mais "confortável" e egoísta.


Michel

A maioria das reclamações sobre o transporte público sempre estão atreladas ao ítem necessário para qualquer ser humano: conforto.

Andando de ônibus pude perceber que as linhas que estão dentro do centro expandido (aquela área do rodízio) são sempre as mais confortáveis, com mais opções de ônibus e itinerários, mas quem precisa pegar um ônibus lá no Parelheiros (leia-se, extremo, extremo sul) já não tem a mesma facilidade pois não tem muita linha de ônibus e veículos disponíveis. Ainda mais quanto tem greve, quem precisa mais sempre é o mais atingido.

Também acho que deveríamos ter uma política maior para o transporte público, privilegiando sempre o uso do trem/metrô/ônibus. Mas infelizmente hoje quem puder pegar um carro e ir pro trabalho mesmo tendo que fazer as contas no final-do-mês, para pagar seguro, gasolina, etc, as pessoas acabam preferindo o conforto do carro do que o rala-rala no busão.


chester

Eu sei que vai parecer estranho, mas eu juro que não tinha lá muita intenção de comparar transporte público com automóvel nesse post - eu realmente fiquei lembrando das coisas bestas que eu não tenho mais que passar depois que desencanei de ter carro, e a lista se escreveu sozinha! :-)

Posto isso, acho que cada um tem que ver o que é melhor pra si - ou, no caso de São Paulo, o que é menos pior. No meu caso, eu invisto parte do dinheiro economizado em morar em lugares mais estratégicos. Pra mim funciona, mas sei que pra algumas pessoas não.


Wilerson
No meu caso, eu invisto parte do dinheiro economizado em morar em lugares mais estratégicos. Pra mim funciona, mas sei que pra algumas pessoas não.

Somos dois. O mais legal dessa estratégia é que, em um caso que o transporte público não atenda as necessidades do momento, um táxi não sai tão caro.

Outro detalhe de não ter carro é a liberdade que se tem de poder beber e não ter de se preocupar em ser multado/causar um acidente. :P


Willian Cruz

Willian Cruz

Chester, vejo que você entende perfeitamente por que eu desisti de dirigir e adotei a bicicleta. Sei que você até tentou usá-la e não se adaptou, mas fico feliz de ver que fez outra escolha inteligente e que é boa para você, para a cidade, a saúde coletiva e o meio ambiente, mesmo que a motivação maior tenha sido pessoal (como também foi a minha).

Para quem quiser entender melhor o que faz alguém vender um carro bom para usar bicicleta, transporte público e, eventualmente, táxi, veja aqui: http://j.mp/aEeFhT


Fabiano Silos

Fabiano Silos

Legal essa página. Todo mundo que fala pra mim que vai comprar um carro eu apresento esse panfleto pro cara refletir um pouco.



Ila Fox

Eu só queria saber dirigir para poder alugar um carro durante uma viagem (já que em alguns países transporte publico e taxi são chatinhos de encontrar).
Ah, e tbm pq tenho o sonho secreto adolescente de fazer uma viagem de carro numa destas auto estradas internacionais. ;-)

chester

Heh, eu tinha esquecido dessa idéia de viagem pelas estradas vicinais, até você mencionar! Ainda bem que mantenho a carteira de motorista (na real porque é mais compacta que a identidade).


Angela

Se você só precisa de carro nos fins-de-semana, alugar fica infinitamente mais barato. E elimina váááários dos problemas, como o medo de abastecer com gasolina vagabunda, pagar seguro, IPVA e outras mil-e-uma taxas. Carro sempre novinho e você sempre feliz.

chester

Pois é... mas ainda tem que dirigir ele! :-)

Por outro lado, estou quase me rendendo à idéia de alugar para eventualidades. Fiz isso uma vez ou duas no passado e deu muito certo.