Eu até curto um jogo de cartas/tabuleiro mais elaborado, mas tenho alergia àqueles onde você queima horas aprendendo para só aí começar a jogar decentemente e se divertir. Felizmente o @btco me apresentou o Munchkin – jogo de cartas que, segundo o próprio fabricante, “captura a essência da experiência da aventura-em-masmorra, sem aquela parafernália de RPG” – o que seria uma afirmação à toa, se o fabricante em questão não fosse a própria Steve Jackson Games¹ – pioneira do gênero RPG nos EUA.
Esse tipo de humor auto-depreciativo mostra o diferencial do Munchkin: ao invés de vender a ilusão de que uma mecânica complexa demonstra algum tipo de superioridade intelectual dos participantes (como fazem tantos RPGs e jogos de carta/tabuleiro por aí), ele se baseia em um conjunto simples de regras. Os detalhes mais cabeludos ficam por conta de cada carta, facilitando muito o aprendizado e tornando-o divertido de imediato.
O jogo original deu origem a variantes temáticas – a que eu tenho, claro, é o Super Munchkin, na qual jogadores e monstros são, respectivamente, super-heróis e vilões. Assim como o original satiriza o gênero RPG medieval, esse não poupa os comics da ironia: a carta “erro de continuidade” anula tudo o que foi feito numa batalha (causando grande confusão), o nível do jogador sobe com cartas do tipo ”cueca pra fora da roupa”, e por aí vai. Um pré-requisito é entender inglês – não apenas para interpretar as cartas, mas para apreciar o humor nerd em cada uma delas. A Devir lançou uma versão nacional do original, mas parece que esgotou e não se encontra mais em lugar nenhum. O melhor é importar (ou procurar um pouco por aqui) e encarar o idioma.
¹ Quem leu o livro-reportagem The Hacker Crackdown deve lembrar que o serviço secreto americano investigou de forma truculenta a empresa quando soube que um dos seus colaboradores (responsável pelo GURPS Cyberpunk) circulava no submundo hacker – pesquisa de campo é isso aí, o resto é resto.