Nas Redes do Sexo foi mais um daqueles livros “fora da caixa” inseridos entre uma e outra leitura mais próxima do meu cotidiano – uma tática de expansão de horizontes que raramente me decepciona.
Baseado na pesquisa de campo da colombiana María Elvira Díaz-Benítez (doutora em antropologia social pela UFRJ), é uma análise interessante e minuciosa dos personagens (atores, produtores, recrutadores, técnicos, etc.) que formam a “rede” responsável pela produção de filmes pornográficos no Brasil, com foco particular na última década e na cidade de São Paulo – que, ao que tudo indica, é a Hollywood tupiniquim do gênero.
É um estudo bastante sério, livre de qualquer conteúdo erótico ou similar – se você procura pornografia, não é nele que vai encontrar. Mas abre espaço para alguma experimentação, cujo exemplo mais óbvio é a divisão da análise em capítulos que remetem à retratação cinematográfica do ato sexual em si: Preliminares foca no processo de recrutamento e pré-filmagem; Transa descreve os pormenores da captação e as polêmicas relacionadas (ex.: uso de camisinha), Consumação continua esse processo até a pós-produção/venda e Elenco faz um balanço sobre a vida e as perspectivas de atores e atrizes, dentro e fora do set.
O livro não perde de vista o olhar antropológico, o que pode tornar alguns trechos mais densos e menos interessantes para quem não tem inclinação para as ciências humanas. Não é o meu caso – mas se fosse, eu ainda recomendaria o livro, nem que fosse só pelas curiosidades e pelos bastidores desse suposto universo paralelo que, no fundo, é uma organização social como outra qualquer. É uma leitura sóbria, desprovida do erotismo que o título ou a capa podem sugerir – a menos, claro, do “voyeurismo intelectual” que qualquer texto com viés biográfico pode motivar…