A Bani queria participar da Toronto eMetrics (uma conferência de gente que tortura os números da web até que eles confessem). Era a desculpa que eu precisava para conhecer Toronto de verdade e retornar a Nova Iorque.
Juntamos Boston e Montreal ao roteiro e incluimos viagens bate-e-volta para Washington e Quebec City, o que resultou em uma viagem que eu não podia deixar de registrar.
Hospedagem e Transporte
Para fazer uma viagem tão extensa, tentamos economizar na hospedagem. Por exemplo, em Nova Iorque tudo o que queríamos visitar estava em Manhattan, mas era jogo ficar em um hotel mais em conta no Queens e pegar o LIRR (trem expresso que aparece no filme Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças) todos os dias.
Também buscamos hotéis baratos em Boston, Toronto e Montreal, sempre tentando ficar próximos do transporte público. Na última trocamos o hotel por um apartamento alugado para a semana. Foi bacana: além da economia, a gente acaba fazendo compras, cozinhando, enfim, vivendo mais o cotidiano da cidade.
As quatro cidades disponibilizam passes semanais, que permitem andar à vontade de ônibus e metrô, e Toronto também integra os bondes. E estes mostram até onde vai o respeito ao pedestre: quando o bonde pára e existe uma pista entre ele e a calçada, os veículos também param para as pessoas entrarem e saírem do bonde. Imagine isso aqui – morreriam uns vinte usuários atropelados por dia. Por outro lado, lá também tem lavagem semi-compulsória de pára-brisa.
Eventos
Na Boston Comic-Con o ponto alto foi assistir Feldstein, um documentário bacana sobre o editor da MAD, com participações que incluíam o Sérgio Aragonés (que eu tinha visto na WonderCon) e o Al Jaffee, autor das famosas “dobradinhas MAD” (que ele, aos 91 anos, continua fazendo mensalmente) e “respostas cretinas para perguntas imbecis“. E me surpreendi ao ver que o próprio Al Jaffee estava quase do meu lado assitindo ao filme! Outro ícone presente foi o Peter Bagge, mas eu estava tímido e só tirei foto de longe.
Em Montreal fomos à Star Wars: Identities, uma exposição imperdível para fãs da série. A idéia é mostrar como as experiências e escolhas moldam uma identidade (real ou virtual), com foco particular em Luke e Anakin Skywalker.
Os visitantes recebem uma pulseira que pode ser usada em diversos pontos da exposição para responder a perguntas (tocando nas paredes e terminais apropriados). Isso permite ao sistema deles criar a história e o visual do seu personagem, cujo link você recebe por e-mail (veja o Chester wookie ou a Bani nautolaniana).
A brincadeira é acompanhada de dúzias de apresentações multimídia, sketches, roupas e maquetes do filme, tudo com narração bilíngue acionada quando o visitante se aproxima de algum setor. Sensacional, se vier pro Brasil eu vou ver de novo!
Estivemos também na The Art Of Video Games Expo em Washington, no Smithsonian. A mostra incluía computadores, videogame, jogos e mini-documentários. Não era tão abrangente quanto, por exemplo, a Game On, mas valeu ter perdido um ou dois monumentos para visitá-la.
A Broadway pede musicais, e dessa vez vimos dois: Spider Man: Turn Off The Dark e The Lion King. O primeiro começa meio devagar (ou eu já estou cansado de ver essa história) mas pega o ritmo na metade, tendo o show roubado pelo Duende Verde. D’o Rei Leão eu nem esperava muito, e me surpreendi: é um dos melhores que já vi!
Passeios
Em Nova Iorque fizemos o passeio de barco que faz a volta em Manhattan (na verdade um semi-círculo: a volta completa demorava 3h e acrescentava pouco). Dá uma ótima visão da Estátua da Liberdade e dos outros marcos da ilha (incluindo as obras avançadas da Freedom Tower). Um lance divertido foi pegar os profissionais da Fao Schwartz dançando no piano:
Boston é uma cidade grande, mas agradável (eu moraria lá sem pestanejar), cuja história atrai muitos turistas americanos. O passeio legal é o Freedom Trail, um caminho sinalizado no meio da cidade, através do qual você visita a pé diversos marcos históricos. Também fomos ao campus do MIT, e ficou claro porque tantas coisas legais saem de lá. A Bani até fez amigos no clube de origami, e acabou trocando o dia na Comic-Con por uma palestra sobre “Origami e Matemática, mas principalmente Origami”. #nerd
Washington é uma espécie de parque temático do Capitão América, onde você vai encontrar clássicos como o Lincoln e o Capitólio (que exige visita agendada, mas dá pra ver o básico e almoçar lá sem agendar). Optamos por um tour de ônibus que permitia descer e subir à vontade, e com ele deu pra conhecer tudo em um dia.
Toronto e Montreal nos divertiram com os shoppings subterrâneos (PATH e RÉSO, respectivamente), mas na primeira também visitamos a Casa Loma (onde fica a famosa escadaria do Scott Pilgrim). Pulamos a CN Tower (é legal, mas já tínhamos subido antes) e no geral batemos perna pelas duas cidades (usando o excelente transporte público, que dá conta mesmo no horário de pico).
Montreal não teria sido a mesma sem a prestatividade do Mikio e da Cris, que nos levaram de alto a baixo: com eles comemos bem, aprendemos os fundamentos do francês quebecois (posto à prova quando, com cólicas, precisei explicar o que era um Buscopan na farmácia), visitamos um cassino fora da ilha e até fizemos um agradável bate-e-volta até a Cidade do Quebec. Eles também deram as dicas para conhecermos o centro histórico, o porto e o diversificado Quartier Latin, onde você encontra duas lojas de jogos de tabuleiro, uma só de mangás e outra especializada em produtos de cannabis – todas na mesma rua!
Comida
Uma semana nos EUA sem gordices era impraticável, ainda mais agora que não ando estritamente vegetariano. A redescoberta dos chicken fingers (em particular do KFC e do Friday’s, comuns por ali), aliada a duas visitas ao The Cheesecake Factory de Boston me trouxeram de volta 2,5 Kg mais longe do meu peso ideal.
A gastronomia tomou boa parte do passeio no SoHo, com dois lugares ótimos: o Lombardi’s, que alega ser a primeira pizzaria da cidade (sem dúvida é das melhores) e o Rice to Riches, que serve arroz-doce nos mais diversos sabores, acompanhado de mensagens motivaicionais em prol do jeito glutão de viver.
No Canadá mantivemos o ritmo, já que Toronto tem bastante restaurantes legais na King e na Queen, além de opções garimpáveis onde estávamos hospedados (ao longo da Spadina em Chinatown). A Nat e o FZero gentilmente nos levaram ao La Palette, no qual experimentei carne de javali e até de cavalo (esta última parece a bovina, o gosto é bom); jantei com o Guilherme Blanco e a Sara no Drake Hotel; e o Cauê Guerra nos apresentou ao Dazzling, que tem várias especialidades asiáticas – escolhemos comida tailandesa e não nos arrependemos.
Em Montreal almoçamos com o Rafael Rosa Fu na ilha vizinha, a Île des Soeurs, mas a refeição mais curiosa aconteceu no Schwartz’s: a fila na porta desanimava, mas do nada dezenas de pessoas entravam! O que rola é que o lugar foi pensado para atender os trabalhadores nos anos 30, então tem todo um esquema: as pessoas sentam na ordem de chegada, em grandes mesas estilo refeitório. Os pedidos são pegos na ordem e entregues da mesma forma. Apesar de tudo ser feito com total cordialidade (e do sanduíche defumado justificar sua fama), era inevitável lembrar do Soup Nazi e dar umas boas risadas.
Fotos
Acho que não deu pra falar nem metade do que a gente fez – foram três semanas em ritmo acelerado. Mas fotografamos tanto quanto deu, e pra quem quiser saber mais, eis os álbuns: