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A primeira vez… no estádio

Fotos: Adriana Garcia

**A EXPERIÊNCIA **

Adriana (gremista), Juan (corinthiano) e eu (não-praticante)Nunca me interessei por futebol. Não vou ser o primeiro nem o último nerd a dizer isso, mas o meu caso é crônico: não jogo bola, não acompanho campeonato, não assisto jogo na TV, nem copa do mundo eu vejo. O mais perto que eu cheguei foi gastar uma meia horinha no Winning Eleven (e mesmo assim só porque era da Konami).

Mas eu sou, acima de tudo, um cientista. E neste espírito científico aceitei o convite de dois queridos amigos para ver um jogo no estádio, e tentar entender (ou ao menos sentir um pouco) a paixão nacional. Sendo meu amigo corinthiano e minha amiga gremista, nada mais natural que prestigiar o Corínthians x Grêmio, que aconteceu no Estádio do Pacaembu em 21/Ago/2004.

TV VERSUS ESTÁDIO

Eu não sei se um dia vou me apaixonar por futebol, mas uma coisa é certa: nunca mais vou conseguir assistir a um jogo pela televisão. Não é a mesma coisa. Ter a visão do campo todo é ótimo e, ao menos no lugar onde eu estava, dá pra acompanhar numa boa todos os lances, mesmo sem replay.

Fica a impressão de que assistir um jogo desses pela TV é como navergar nesses sites com barra de rolagem horizontal – com a desvantagem que você não controla a barra. Além disso, por menos que eu conhecesse os jogadores ou detalhes das regras, é muito melhor acompanhar sem a narração.



A torcida

Momento do gol do grêmio

VALE-TUDO

Apesar do chavão dizer que “a regra é clara”, aparentemente, a sua aplicação não o é. Sei que não é fácil ser árbitro, mas isso não muda os fatos: de cada cinco decisões, uma é altamente discutível – e isso para mim, que não tenho o mínimo olho clínico.

A apoteose do absurdo é a cobrança de lateral, na qual os jogadores demonstram seu lado nômade. Teve uma hora na qual eu poderia jurar que o cara avançou uns três metros em relação ao ponto de onde a bola saiu, e o árbitro não se abalou. Agora sei porque os desportistas se irritam quando chamamos este profissional de “juiz”: nem o nosso judiciário, com todas as suas mazelas, é permissivo assim.

Se o árbitro deixa passar qualquer coisa, a torcida, por outro lado, é implacável. Num momento meio tenso, em pleno ataque, o jogador corinthiano deixou de pegar a bola que estava saindo, achando que a lateral seria do seu time quando, na verdade, era do adversário. Foi vaiado à exaustão, me lembrando de quando passei pela mesma situação (é, eu era obrigado a jogar no ginásio). Nego me olhou torto por dias a fio.

TORCIDAS ORGANIZADAS

No caso, só estavam as do Corínthians – os torcedores gremistas ficaram confinados em um canto do estádio (exceto minha amiga, cujo ânimo eu tentava refrear a todo custo, temendo a reação da turba). A bateria era bastante cadenciada e incansável, o que me impressionou.

Num dado momento, sugriu uma fumaça preta (não sei se era algum tipo especial de gelo seco ou o quê), produzida pela Gaviões da Fiel. Passado o susto (achei que já estavam incendiando tudo), me resignei a admirar: os caras se preparam bem. Tanto eles quanto a Camisa 12 estendiam bandeiras cobrindo a arquibancada, sendo que uma delas (estendida no “tobogã”, a desprestigiada área atrás do gol no Pacaembu) reivindicava o eternamente prometido estádio do Corínthians.

Dizem os entendidos que um jogo “em casa” é forte vantagem. De fato, a torcida se empolga: xingam o adversário, o juiz e os jogadores do próprio time. Eu sou meio profissional nessas horas (uma vez o Maluf foi participar de um chat no iG e eu mantive a compostura – mesmo quando ele veio “ganhar o meu voto”), mas imagino que deva incomodar. Ao menos a hostilidade se limitou ao campo verbal.



Efeito de fumaça preta. Macabro.

Faixa de protesto: “cadê o nosso estádio?”

INFRA

Eu já esperava que os preços no estádio, embora ainda populares, fossem além do razoável. O que me surpreendeu foram as marcas looser de todos os produtos – com o destaque para um sorvete que tinha como slogan “Sorvetes Fiesta – o que é bom pra você”. Aquilo era bom pra mim? Não precisa pisar também, puxa vida.

Pelo menos os vendedores estavam disponíveis a qualquer hora. Também vendiam hot-dogs, e eu fiquei imaginando quem consegue comer um hot-dog naquele calor. Além disso, havia a famosa cerveja no copo de plástico (que não se transforma em arma). Dispensei ambos, já passei suficientemente mal com o calor (mesmo na sombra).

CONCLUSÃO

É uma experiência incrível – e olha que eu não me envolvi muito (tá, eu acabei me solidarizando e torcendo para o Grêmio, mesmo eles jogando com 12 homens na defesa). Acho que todo mundo tem que fazer isso uma vez na vida, e recomendo fazê-lo num lugar bom como o que eu peguei (nas numeradas, próximo do meio) e com companhia experiente e agradável como a que eu tive. Porque mala em estádio é o que não falta, eu vi um monte.

Finalmente, aproveito o momento para pedir desculpas publicamente ao Juan, que saiu frustradíssimo porque eu não soltei um mísero palavrão…