De Dresden eu fui a Berlim, que também transpira história a cada esquina. Mas tem uma diferença: Dresden é um lugar mais “leve”, mesmo longe da zona-de-conto-de-fadas, enquanto que em Berlim vivencia-se o fato de estar em uma grande metrópole. Isso se junta às questões da história recente (que nem preciso abordar a fundo) para deixar o clima um pouco mais pesado. Mas só um pouco.
Em termos de hostel, a experiência não foi muito boa. No Mittes os banheiros são coletivos, e a limpeza muitas vezes deixou a desejar. Os funcionários (no geral bem jovens) têm pouca fluência no inglês ou boa-vontade para qualquer coisa que não tenha a ver com bebida ou balada. Parece um lugar legal para adolescentes que querem sair da saia dos pais, fora isso não tem nenhum atrativo.
O café da manhã variava muito: quando os caras abasteciam ele valia os €5.50, mas em dois dos quatro dias eu achei coisas melhores para comer na rua. Tem Wi-Fi, mas eles cobravam o dobro do pessoal de Dresden (e era o mesmo service provider) e, ao contrário de lá, não tinha uma taxa fixa diária.
Fiquei tão puto que confesso ter abusado de uma falha idiota do sistema: quando você dava logoff ele não derrubava as conexões existentes, permitindo fazer downloads gigantes ou ficar no GTalk usando apenas 1 ou 2 minutos da conta. É feio isso, mas considerei questão de justiça pelo preço extorsivo e atendimento “yeah, whatever”.
O que me manteve lá foi a localização: não só ele era tão perto da estação de trem inter-municipal quanto o de Dresden, mas também tinha acesso ao metrô logo na porta – e também um internet café com o curioso nome de “Bollywood” (o dono era um indiano que, tirando o hábito de fumar de vez em quando naquele lugar fechado, era gente boa.)
E isso é o mais importante, porque Berlim tem *muito* a oferecer. A dica que me deram e eu repasso é fazer, antes de mais nada, o Free City Tour. É um passeio a pé pelo centro da cidade que vai mostrar as principais atrações e apresentar uma perspectiva histórica de cada uma delas.
Depois desse passeio você seguramente vai saber o que fazer e para onde ir. Por “free” entenda que ao final é praxe dar uma gorgeta ao guia – ele não recebem salário e essa gorgeta é tudo o que ele vai ganhar. €5 é um básico, €10 e acima se você realmente gostou (como no caso do meu guia.)
Sugestão: em qualquer dia sem chuva suba na Fernsehturm, a torre de TV – eu achei que todo dia era dia, e acabei não indo porque o tempo fechou (substituí por um passeio na Lego Land do Sony Center – que, de boa, não vale os €15.)
A minha fama de apreciador da cultura e das artes é uma farsa elaborada que exige manutenção constante. Isso me levou à East Side Gallery, na qual uma seção sobrante do muro é usada como galeria de arte ao ar livre. Claro que o discurso acerca da unificação é o mote, mas é interessante ver como outras bandeiras políticas e influências culturais se misturam e dão origem a peças únicas.
Tem museus a dar com pau, e o sistema de transporte público permite visitá-los com facilidade. O hostel tinha alguns mapas turísticos, mas nenhum bom – o único legal mesmo foi o que o pessoal do Free City Tour deu (que você pode pegar no Starbucks que marca a saída, ou com o guia.)
Um passeio bem bacana foi a ida até o município vizinho de Potdsam – foi um pouco complicado chegar porque uma das rotas estava inoperante devido a uma inundação – e eles só avisam isso nos letreiros em alemão. Fica a dica: informe-se antes de sair se for fazer esses passeios mais longos.
O ideal é alugar bicicletas (o que pode ser feito lá ou em Berlim, os trens acomodam bicicletas numa boa), mas chegamos meio tarde e acabamos percorrendo o grande jardim a pé. Quase morri, mas valeu: os jardins e castelos são indescritíveis – num deles funciona a Universidade de Potsdam. Igualzinho ao IME. :-P
Compramos um mapa turístico por €2 que permitiu fazer esse passeio por conta, mas nem ele antecipou a surpresa que foi encontrar a Brandenburger Straße: com um mercado de comes e bebes ao ar livre, a rua é o destino final ideal para um fim de passeio (se você não chegar tarde como a gente.)
A cidade é famosa pela vida noturna – mas a minha também é, então só topei sair à noite para lugares que fossem “lado B” o bastante (já que durante o dia eu andava bastante). O Leo foi providencial nessa hora, tirando da manga dois lugares interessantes: o Chill Out, um barzinho bem aconchegante, família mesmo (se você não levar em conta a boneca inflável que fica sentada na mesa de bilhar), e o Cafe Zapata.
Esse último é mais curioso: reza a lenda que quando o muro caiu, alguns edifícios de Berlim Oriental foram parcial ou integralmente abandonados por seus habitantes, que zarparam para o outro lado. Um deles foi tomado por uma galera e transformado em um misto de espaço cultural alternativo e balada.
Por €2 eles carimbam o guardinha do Firefox na sua mão, o que permite entrar e sair à vontade – um lance importante, dado o preço das bebidas lá dentro. Por “dentro” entenda-se a antiga garagem do prédio, onde as barraquinhas de bebida dividem espaço com um palco, onde uma banda fazia covers competentes de rock anglo-americano clássico.
Ainda no térreo tinha uma área fechada que parecia até uma danceteria normal – a menos do povo freak extreme e do dragão metálico soltando fogo esporadicamente. Isso sem falar em uma máquina de fliperama mega antiga que eu nem conhecia – era alguma coisa velhaca da Taito ou Atari, coisa de anos 80 ou até anterior. Surreal no último.
Nos andares do prédio (cobertos por pôsteres e grafitti) você não paga para entrar, e cada um tem uma coisa – desde baladas mais descompromissadas até uma daquelas feirinhas de “arte” estilo Benedito Calixto. A maior parte do pessoal é bem de boa, com a eventual trupe de girls-gone-wild dando um colorido. Uma balada bem alternativa.
Um outro lance muito divertido foi conhecer o Ampelmännchen, ou Ampelmann. Os alemães orientais criaram este personagem especialmente para orientar as crianças acerca da importância de atravessar no farol. É mole?
Sei lá qual foi o resultado, mas a coisa virou febre: na lojinha (que tem versão online) você encontra todos os produtos possíveis e imagináveis: roupas, canecas, móveis, até bala de goma e guarda-chuva! Dá pra viver só usando produtos do Ampelmann. Isso sem falar no restaurante, que não deu tempo de visitar.
Enfim, um país que gasta tanta energia com um detalhe como o bonequinho do farol merece uma visita. Próxima parada: Praga.