Seria um exagero dizer que todo mundo curte um bom livro sobre matemática. Mas não dá para ignorar a popularidade dos que tentam jogar fora a interpretação natural dos números em favor de uma nova ordem que possa emergir do caos aparente. Exemplos incluem o Freakonomics, com a sua investigação baseada em números; o Outliers, que olha para as pessoas e coisas que se destacam; o Free; o The Long Tail e toda uma série de livros cujo tema é a “matemática fora da caixa”.
Numbers Rule Your World vai na contramão disso. Ele é sobre a matemática que funciona. Cada um dos seus cinco capítulos aborda um aspecto da estatística que funciona muito bem, obrigado. E cada um desses tópicos é introduzido por um par de aspectos da vida real, que mostram o mesmo fator trabalhando em direções opostas, às vezes com resultados diferentes também – mas isso quando o aspecto socio-psicológico entra em jogo, introduzindo o erro e a superstição.
Ao comparar o problema das filas da Disney com os congestionamentos em estradas de alta velocidade, por exemplo, ele observa o contraste entre a solução ótima (controlar a variância do público nas atrações/entradas) e a crença popular de que mais capacidade ou uma espera média menor reduziriam o problema. Ele aproveita para desmistificar o “homem médio” (um conceito surpreendentemente aceito, dado que não é tão antigo quanto parece) e também para mostrar que a consideração do fator humano é o que torna o trabalho dos engenheiros da Disney mais aceito que o dos seus colegas do departamento de trânsito.
Outro caso curioso é o das possibilidades remotas: morrer na queda de um avião é tão improvável quanto ganhar na loteria, mas as pessoas continuam evitando viajar de avião e compram bilhetes em vão. Mas há um fato estatístico mais interessante: a investigação de padrões improváveis permitiu mostrar que não há companhia mais (ou menos) segura que outra para voar, além de possibilitar a detecção de fraudes lotéricas em resultados aparentemente aleatórios.
A assimetria de recompensas e punições é outro tema onde o social conflita com o matemático. Isso é visto no capítulo que compara testes anti-dopping e polígrafos para uso policial/militar. Vale lembrar que o inventor de um dos testes que levaram ao polígrafo também é o criador da Mulher-Maravilha e seu Laço da Verdade.
Os exemplos se desdobram, e sob este aspecto, o livro é fantástico. O que me incomodou um pouco foi o tom professoral: não apenas ele repete e repete e repete os mesmos conceitos em diferentes formas, mas ainda faz um apanhado geral no final. E também abusa do recurso de te convencer de um ponto de vista controverso (ex.: que uma pessoa é culpada de um crime), para depois mostrar o oposto através dos fatos. Na primeira vez isso é divertido, na quarta começa a ficar cansativo. Talvez seja o fato de ele estar pregando para um convertido, mas o fato é que daria para comunicar mais com menos.