Sei que está um pouco em cima da hora, mas fiz posts sobre meus candidatos em 2002, 2004 e 2008 (em 2006 eu estava ocupado com o Golpe), e, para não perder o costume, chegou a vez de 2010. Para compensar o atraso, dessa vez vou falar de todos os cargos.
Era de se esperar que a idade me trouxesse um pouco mais perto do conservadorismo – o que não aconteceu. A sabedoria popular diz que “se você não foi comunista até os 30, é um insensível. Se continuou sendo depois dos 30, é um insensato”, e creio que meu viés é para o segundo grupo. Claro, marxismo passa longe há tempos, mas ainda acredito que o governo deve atuar coibindo os excessos do capital e, ao mesmo tempo, estimulando-o e gerenciando o caos quando as inevitáveis crises ocorrerem. Centro-esquerda para uns, centro-direita para outros, abraço a primeira alcunha, que me deixa dormir melhor à noite.
Essa visão explica minha relação de longa data com o PT. Sempre admirei duas características nele: o compromisso em ser a “reserva moral” da política (apoiado no baixo índice de denúncias de envolvimento de integrantes com corrupção e afins) e o bom senso de, quando governo, fazer na prática o que o PSDB propõe na teoria, isto é, uma social-democracia com o mínimo necessário de compromisso para permitir a governabilidade. Isso tudo meio que caiu por terra com os mandatos presidenciais.
Talvez eu tenha mudado, mas o partido mudou muito mais do que eu. Não me considero “traído” como tantos, e reconheço que ainda há quadros muito bons. Tampouco nego que foram realizadas transformações profundas, em particular na esfera federal. Mas é evidente que o PT hoje passa longe da reserva moral e que a falta de escrúpulos nas alianças permite até afagos na família Sarney. Fica cada vez mais claro que a continuidade no poder só daria razão aos que defenderam o caminho torpe ali dentro. Continuísmo é ruim para o país, mas é pior ainda para o partido.
Se alguém ainda duvida que o terceiro mandato seria danoso para a legenda, basta observar o que dois deles fizeram com o PSDB – hoje uma sombra decrépita do movimento de reação à crise de valores do PMDB que o originou. A isso posso juntar minha desconfiança da autonomia/capacidade de Dilma, e tenho na a insatisfação com a tal “transferência de prestígio” a cereja do bolo para descartar qualquer possibilidade de votar nela para presidente.
Infelizmente, esse estado de coisas do PSDB (sem contar a aliança com o “Democratas”) tira o Serra da jogada para mim (uma pena, já que minha histórica antipatia por ele cada vez mais se revela puro pré-conceito – muita gente de bem diz que ele, pessoalmente, não é nada do que pregam). Plínio é anacronismo demais pro meu gosto, o que me levou a considerar (e, por fim, votar em) Marina Silva (43), do PV.
O Partido Verde deveria ter sido a primeira opção avaliada, levando em conta minha simpatia pelos verdes no Brasil e no mundo (que, ao contrário do que muitos pensam, não defendem “as plantinhas”, e sim modelos sustentáveis de desenvolvimento, nos quais leva-se em conta sim que as pessoas têm que colocar comida na mesa, mas que isso não pode ser à custa da saúde ou do futuro da humanidade) e também o fato de que eles já oferecem Ricardo Young (430) como uma excelente opção para o Senado. Este último, aliás, complemento com Marta Suplicy (133) – que tem currículo e serve para reiterar que não creio que o PT “se perdeu”, apenas não deveria assumir o terceiro mandato presidencial.
Confesso que declarações ambíguas de Marina sobre assuntos do meu interesse, como a liberdade de culto (em particular dos sem-culto, i.e., ateus), a legalização do aborto, a descriminalização da maconha (dois itens cuja correlação com melhorias nos mais diversos índices sociais me parece óbvia) e o casamento gay (um direito fundamental num estado laico e igualitário) me deixaram com um pé atrás no início. Mas é fato que não se faz campanha no Brasil (país “110% católico”, como disse certa vez João Pedro Stedile) empunhando estas bandeiras com afinco, então relevo um pouco.
No geral o partido tem programa, possui quadros e simpatizantes capacitados para assessorar (isso é tão importante quanto a capacidade do presidente em si), e a candidata tem garra e princípios. Não dá pra pedir muito mais que isso – ainda mais num pleito onde candidato a senador que bate em mulher (Netinho) e candidato a deputado não-alfabetizado (Tiririca) lideram as pesquisas (nenhum preconceito contra analfabetos, mas eles são inelegíveis: é lei, e não é à toa), então fecho com ela.
Para Deputado Federal, o Alê Yousef (4340) foi uma ótima dica do Barba – segue uma linha de transparência online e de botar as cartas na mesa em assuntos como os discutidos acima. Foi chefe de gabinete da Soninha Francine (que eu lamento profundamente não ser candidata) e isso tudo garante a ele meu voto.
Na esfera estadual não estou tão assertivo, mas voto em Aloízio Mercadante (13) para governador. Novamente vale a pena injetar mudança: a política educacional em particular deixou a desejar nesses anos de PSDB. Mercadante promete acabar com a aprovação automática – um câncer de manipulação de dados que eu vi nascer bem de perto quando era programador na Secretaria de Estado da Educação (há quase 20 anos), e que só se fez alastrar até hoje. Quero ver isso.
Me falta um nome para deputado estadual, então minha opção é pela legenda (PV – 43), que, por afinidade ideológica agiria como apoio e bússola moral num governo de estado do PT, e pelos mesmos motivos como oposição consciente ao PSDB, favorito nas pesquisas. Ou ao menos é o que eu espero…
UPDATE: Os últimos posts do blog do FMC (aka Chicão ou Dr. FMC), amigo dos tempos de BBS, me fizeram ver que o voto mais coerente para garantir a “bussola moral” ao governo estadual seria no PSTU (50), e é com eles que eu vou. Ou seja, minha “cola” atual é 43-430-133-4340-13-50!