Continuando o assunto do último post: fui ao workshop que a Vivo deu sobre a plataforma no Campus Party, no qual os palestrantes Sena e Lecy foram muito gentis em responder ao caminhão de perguntas que eu tinha sobre o assunto.
Antes de mais nada: ao contrário do que a apresentação da API SMS multi-linguagem dava a entender, a idéia inicial da plataforma não é disponibilizar aplicações server-side baseadas em SMS. Isso é tecnicamente possível, mas a idéia é realmente algo nos moldes da App Store da Apple, isto é, um marketplace para que as pessoas comprem e baixem aplicativos sem as complicações de download e pagamento tradicionalmente envolvidas nesse tipo de operação.
O público consiste em assinantes Vivo cujos celulares rodem aplicações Java (JME). Pode parecer restritivo, mas fazendo as contas, estamos falando de algumas dezenas de milhões de clientes potenciais nessas características (segundo a própria Vivo). Com um detalhe: tudo em português, direto no celular, e debitando na conta – ou seja, nada de cartão de crédito ou de exigir um celular de elite – as maiores barreiras entre o “jeito Apple” e o público brasileiro.
O outro aspecto comercial interessante é que, de fato, o desenvolvedor interage diretamente com a Vivo, com um processo bem definido para colocar sua aplicação no ar. Isso é, talvez, a parte mais revolucionária da proposta. Hoje em dia, um desenvolvedor que queira colocar suas aplicações à venda numa operadora precisa, necessariamente, passar por um intermediário.
Comparando com iPhone OS/Objective C (a única outra plataforma viável para desenvolvedores independentes), os aparelhos não têm todas as plumas e paetês (alguns até tem, mas se você quer um público amplo tem que abrir mão), mas a curva de aprendizado e o tempo/complexidade de desenvolvimento são maiores – em particular se você for cuidadoso com detalhes como gerenciamento de memória. Além disso, você desenvolve usando qualquer computador/sistema operacional, o que é outra vantagem em termos de custo.
Com essa perspectiva fica bem mais fácil entender as informações no site. No geral, o processo é:
- Desenvolver a aplicação usando JME/Java. Se sua aplicação gerar envio de SMS, use as APIs – fora isso é uma aplicação JME absolutamente normal;
- Submeter a aplicação à certificação como “beta”. A aprovação nesse processo já vai permitir colocar a aplicação à venda por R$ 0,99 ou R$ 1,99 (à sua escolha). Disso, 70% é seu. E do tráfego de SMS que a aplicação gerar, 10% também vai para o seu bolso;
- Uma vez que a aplicação tenha sua viabilidade comprovada, ela pode ser submetida para o processo completo de certificação, no qual estará lado a lado com as aplicações dos grandes vendedores (a preços equivalentes).
Assim como o sistema, o processo ainda está sendo desenhado e implementado – o passo 2 só rola a partir de Março. Mas não é nada viajante como roubar cuecas para obter lucro, e os caras estão realmente abertos a feedback.
Se vai dar certo, só o tempo dirá – mas é a chance que eu queria ter tido em 2005, quando comecei a desenvolver o miniTruco. Na época nenhuma integradora com que conversei se interessou: eles consideravam os gráficos minimalistas como “defeito” – sendo que isso foi feito propositalmente para garantir a universalidade e evitar telas de loading que tanto me irritam nos jogos tradicionais. Hoje, isto é, 300 mil downloads depois, eu suspeito que estava com a razão…