Eu até lembro de ter comentado com um amigo na época que a coitada ia ter dificuldade de arrumar emprego, afinal, apoiar Maluf é demonstrar uma completa falta de sensibilidade que não ajuda nada a construir uma carreira num meio que é sensível por definição. E o artigo vai além, relembrando casos como o dos artistas famosos que apoiaram Collor (que logo em seguida extinguiu a Embrafilme), e apontando fenômenos místicos localizados, como o fato de Hebe Camargo apoiar Maluf sucessivamente e jamais sair sequer arranhada por conta disso.</span> <p class="mensagem">
Só faltaram o sunda, o lochas e o dunha
“Os deputados do PT Boeira (SC), Bassuma (BA), Maninha (DF), Zezéu (BA) e Biffi (MS) costuram uma aliança com o PFL dos deputados Aleluia (BA), Mussa (PI) e Onyx (RS) para garantir a eleição de Babá (PT-PA) na presidente da Câmara dos Deputados.”
Isso é só o começo da hilária matéria. Confira!
Fotos de micros antigos
Depois de muitas velas acesas para São Backup (acompanhadas de romarias através de CDs, disquetes e ZIPs) achei as fotos da minha coleção de micros antigos. Como era um backup antigo, faltaram algumas fotos, mas já é um começo.
A princesa e o cavaleiro
Tendo o saldo das eleições sido positivo (apesar de ACM e suas crias, do caso PRONA e da crise de insanidade generalizada do eleitorado carioca, temos um Lula encaminhado, Genoíno com chances em SP e Quércia/Collor/Maluf enviados de volta para as trevas), voltemos às trivialidades: finalmente saiu A Princesa e o Cavaleiro, de Osamu Tezuka, no já tradicional formato mini da JBC. O Omelete, como de costume, deu uma boa matéria a respeito, e só acrescento que ler Osama Tezuka é para o fã de mangá como ouvir Beatles para o fã de rock: ensino fundamental.
É muito interessante ver como o homem que praticamente criou o estilo oriental de quadrinhos era influenciado pelo estilo ocidental – os comentários sobre as semelhanças com Walt Disney são válidos. Mesmo com um tema tão carregado de contações sexuais, a sutileza de Tezuka torna o roteiro espantosamente leve. O rumo da história é um pouco confuso no princípio, mas vai ganhando força logo nos primeiros capítulos da edição. R$ 3,50 muito bem gastos.
Livros da FUVEST
Quem já prestou FUVEST sabe do grande dilema do vestibulando. Não, não é qual carreira escolher, e sim decidir se deve ou não ler as “obras recomendadas”. Por um lado, há a possibilidade de recorrer aos resumos e investir o tempo economizado em outras matérias. Por outro, é uma boa maneira de misturar estudo e lazer.
O mais inteligente, pensei, seria procurar saber quais livros têm uma leitura compensadora (tanto do ponto de vista do vestibular, quanto do prazer da leitura), e combinar a sua leitura com os resumos dos que não fossem tão interessantes. Entretanto, ao procurar as opiniões das pessoas sobre este assunto descobri que há, basicamente, dois “partidos”: os literatos, que defendem que todas as obras, sem exceção, são os expoentes máximos dos seus períodos, e portanto ótimas, e a geração malhação, que acha que livro bom é aquele que acompanha os lápis de cor – de preferência com números indicando quais cores vão aonde.
Na falta de uma opinião menos polarizada, optei por ler todos os livros. E achei por bem deixar aqui minha opinião sobre eles, que, embora esteja longe de ser uma palavra final, ao menos é uma opinião sincera de “consumidor”. Para manter a objetividade, me limitei a um parágrafo por livro. Vamos a eles:
Os Lusíadas: Embora a FUVEST só peça a leitura de dois episódios (Inês de Castro e O Velho do Restelo), fiquei tentado a ler o livro todo. Lembrei-me, entretanto, de uma infeliz tentativa de ler a Odisséia (ou teria sido a Ilíada? sei lá, faz tempo) para entender um texto sobre filosofia grega, e optei pelo meio-termo: a Ed. Ática tem uma edição baratinha, chamada “Os Lusíadas” mesmo, mas que é uma seleção dos episódios mais significativos, alternados com explicações que traduzem aquele idioma estranho de Camões para o português. O livro é bem mais divertido se precedido de uma aula e/ou texto explicativo (especialmente no tocante à Inês de Castro), mas também dá pra encarar a seco numa boa.
Memórias de um Sargento de Milícias: Honesto. Não vai tirar seu fôlego nem te deixar pensando na vida ao final, mas é uma leitura interessante e agradável, que vai direto ao ponto, sem se perder na sua multiplicidade de personagens.
O Primo Basílio: Tinha potencial para ser um livro divertidíssimo, se fosse enxugado em pelo menos 25%. Longas e desnecessárias descrições, personagens secundários que pouco acrescentam à trama ou à caracterização dos principais, é digerível se o leitor eventualmente passar reto por algumas descrições excessivamente detalhadas de lugares e principalmente pelas reflexões de Luísa – vale conferir num resumo a idéia geral e pular estes tangos.
Memórias Póstumas de Brás Cubas: O começo é um porre – não é à toa que fez muitas “vítimas” – faça uma pesquisa rápida entre seus amigos (os minimamente letrados, claro) e veja quantas pessoas começaram a ler este livro e largaram para fazer algo mais agradável, como extrair um dente ou pagar uma conta no Bradesco. Meu conselho é: persista. Passado o início modorrento ele fica mais do que passável. Quando o autor vier com papos do gênero “…se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo”, OBEDEÇA. No seu leito de morte, você agradecerá a mim e ao Machado de Assis por termos lhe evitado o desperdício de quatro ou cinco preciosos minutos da sua vida.
Macunaíma: Ok, disse lá em cima que não queria saber da representatividade do livro no movimento literário, mas esse não tem como deixar passar: quando se lê esta fotografia da mente de Mário de Andrade fica-se imaginando a putaria tresloucada que rolou na tal Semana de 22. É divertido ver como ele mistura lendas reais com inventadas, e como ele mescla elementos de fantasia com elementos reais do Brasil todo, levando a gente a imaginar um Brasil ficcional que poderia ser palco de centenas de outras histórias (talvez fosse injusto, mas Neil Gaiman foi a primeira coisa que me veio à cabeça para comparar). Não é uma missão para os fracos: os neologismos e referências locais são tantos que o texto lembra apenas vagamente o português que nós conhecemos. Mas compensa o esforço.
Libertinagem: Embora me tenham como um bocadinho mais sensível do que a média, no fundo soy un hombre latino – e ainda por cima, da Vila Ema – ou seja: poesia não é muito minha praia. Assim, agradeço aos examinadores da FUVEST, que reservaram à poesia um livro minúsculo – tão curto que a edição da Nova Fronteira encaixou outra coleânea do autor e uma cronologia da vida dele para dar um mínimo de volume. Eu optei por ler o livro todo, e depois partir para o resumo/comentário do Objetivo. Mas o livro é *tão* fino que mais da metade dele é reproduzida no comentário. E pelo estilo da pergunta que se faz na primeira fase, mais vale conhecer o Modernismo do que ter lido o livro. Pena.
Primeiras Estórias: Esse foi, possivelmente, a maior tortura de todos. Dizer que cheguei ao fim é quase um exagero, pois nas últimas páginas eu mal aguentava. Quem for um pocuo menos casca-grossa do que eu talvez aprecie o estilo ou algum detalhe que eu ignorei. Só lamento que este tenha sido o único livro no qual investi em uma edição mais cara (R$ 29). Alguém quer comprar? R$ 10 é seu, aceito tíquete e vale-transporte.
A Hora da Estrela: Vou fechar este texto com (mais) uma heresia: Chico Buarque não é perfeito. Descobri isto ao ler Estorvo, de sua autoria, onde ele tenta imprimir um ritmo ao autor-personagem que simplesmente não funciona. E o que isso tem a ver com este livro? Tudo: a estratégia é a mesma, com uma desvantagem – o autor-personagem tem participação mais emocional do que efetiva na história. Entendo quem queira conferir pessoalmente, mas um resumo cairia muito bem, já que história, história, não tem muita.
Desculpem a panfletagem, mas é agora ou nunca
Eu normalmente adoto uma postura reservada quanto às minhas preferências político-partidárias, em grande parte por achar que existem melhores canais e melhores debatedores neste campo. Acontece que o momento é decisivo, e por mais modesto que seja este espaço, aqui eu declaro que meu voto é Lula e Genoíno. E, não contente com isto, vou militar neste sentido: se você *não* vai votar em Lula, peço que pare e pense um pouco.
Você está realmente contente com o Brasil que está aí? Não estou falando da *sua* situação, ela deve ser boa – você é alfabetizado, tem acesso a um computador e escolaridade/cultura suficientes para visitar um site que é só texto. Estou falando daquilo que o cerca.
Deixe o preconceito de lado um pouquinho só. Se você não vota em “baderneiros”, pergunto eu: qual foi a baderna que o PT fez? Por um acaso seus integrantes desviaram dinheiro público? Entregaram nossa economia nas mãos do FMI, deixando-a instável como um Windows 98? Venderam barato as nossas empresas (justificando-se com algumas melhoras pontuais nos serviços, mas que foram acompanhadas por aumentos em praticamente todas as taxas)? Isso pra mim é que é baderna.
Você acha que o PT vai “tirar o que é seu pra dar pra quem não trabalha”? Analise um pouco melhor os programas, e, principalmente, as gestões PT que estão por aí – você vai ver que, se alguém perdeu algo, foi quem estava tomando ilicitamente. E se algo foi dado a quem não trabalhava, esse algo foi educação e emprego pra quem quis, e as penas da lei para quem não quis. Nenhuma administração é perfeita – eu que moro em São Paulo sei bem. A diferença é que as gestões do PT admitem isto e usam para melhorar, ao invés de varrerem para baixo do tapete e construirem o prédio na frente da favela.
Tem também quem acha que manter o governo atual é bom para a “estabilidade”. Ora, isso é como um viciado achar que a cura para a crise de abstinência é tomar mais uma dose. Tem que cortar – e tem que ser agora, afinal, foram-se os bons tempos em que a maior preocupação do presidente dos EUA era a estagiária boazuda. O cenário internacional está ficando complicado, e se não tirarmos o traseiro da janela, o que estamos passando agora vai ser bolinho em comparação com o futuro.
Ainda não se convenceu? Leia um pouco mais – ou, se você já lê bastante, tome cuidado com o que lê. Pare de achar que a Veja ou a Época são noticiários – elas mesmas se definem como “revistas de opinião”. Nada contra ler uma delas, mas contrabalanceie com uma IstoÉ, República, ou Caros Amigos, senão você vai ficar como aquele gordinho do programa de entrevistas, que até seria um cara bacana se não achasse que está por dentro de tudo o tempo todo.
É hora de votar em Lula. Para quem está em SP, é mais importante ainda votar em Genoíno. Se nada mais for convincente, ao menos para nos livrar de Maluf. Porque, se Maluf for eleito, ou mesmo se ele for para o segundo turno, me convenço de que os militares estavam certos: nós não sabemos votar. Mas ao menos a minha consciência vai estar limpa. E a sua?
Dois filmes e um pequeno desabafo
Ainda na onda de dar um tempinho dos filmes do circuito, fui ver e recomendo:
Jalla! Jalla! – Quando alguém diz “filme sueco” acontecem duas reações: a velha guarda pensa “filme de sacanagem” e o pessoal mais novo imagina “putz, filme intelectualóide”. Jalla! Jalla! não é nem uma coisa nem outra. O tema (um casamento arranjado à revelia) pode sugerir o dramalhão choroso sobre o triste amor da menina, mas o foco é no cara – e no lado comédia de algo assim acontecer com alguém como eu e você. Em paralelo, o filme cria situações engraçadas em torno de um problema sexual do amigo do noivo, sem qualquer apelação desnecessária. Dá pra levar o namorado(a) numa boa, mesmo que ele(a) esteja mais a fim de ver historinha de namorico com a Julia Roberts e o Richard Gere – todo mundo sai feliz do cinema.
Uma Onda no Ar – Uma opção menos gangsta que o já comentado Cidade de Deus para quem quer conferir a tal retomada do cinema brasileiro. Embora também seja ambientado na favela, baseado em história real, etc, etc, o tema central do filme é a montagem de uma rádio comunitária, e não a indefectível dobradinha tráfico/miséria. Claro que o cenário influencia – mas o filme não se perde nele, tornando a digestão muito mais agradável. Fora que os gringos vão descobrir que existe favela fora do Rio de Janeiro (mais ainda: que existe Brasil fora os morros do Rio e a floresta na Amazônia), o que já vale o ingresso pra eles.
Agora que falei dos filmes, um pequeno desabafo: estou de saco cheio de ouvir diálogos como o que se segue (literalmente transcrito de um papo que ouvi sobre filmes em cartaz):
- E Cidade de Deus, hein?
- Ah, eu acho esse filme muito violento.
- É mesmo? Eu estava pensando em ver.
- Sei lá, tem cenas muito fortes, não achei nada legal.
- Credo, mas você viu isso no filme ou no trailer?
- Não vi nem um nem outro, eu não gosto de filme assim.
Eu já fico fulo com gente que se acha mais capacitada que todos os diretores, autores, governantes, engenheiros e médicos do planeta para dizer como qualquer coisa deve funcionar, mas comentar as cenas violentas do filme sem ter assistido é demais. E quando digo que fui ver o filme, eu é que sou tido como “arrogante” por “ficar gastando tempo e dinheiro com esses filmes ruins só pra dizer que é inteligente”…
Joel sobre software
Finalmente começaram a ser publicados os artigos do Joel On Software em português. Não canso de recomendar este site a qualquer um que tenha ligação direta ou indireta com o desenvolvimento profissional de software: os artigos do autor são bastante instigantes, e, para quem conhece inglês, o fórum tem um nível tão bom que dá até remorso do tempo perdido com brigas nível 5a. série no SlashDot e similares.
Cidade de Deus
Normalmente eu não vou assistir os “filmes cabeça” da moda. Não é tirar onda de pós-tudo não, é que, assim como os “blockbusters”, é difícil diferenciar o joio do trigo. Cidade de Deus é um caso desses – e ainda por cima fala de periferia e narcotráfico, temas que costumam deixar um vilaemense como eu com um pé atrás.
Mas embalado pela experiência agradável com o curta “Palace 2″, resolvi arriscar. E não me arrependi: o filme é realista, um pouco chocante até, mas não tenta se sustentar nisso – a história interessnte, no final faz valer o ingresso. Fugindo ao “jeito Spike Lee” de retratar situações de gueto, o filme chega até a usar um pouco da linguagem de roliúde, mas bem de leve, sem deixar aquela impressão de terceiro mundo querendo fazer bonito.
Como está em circuito, é uma boa oportunidade pra desanuviar um pouco dos remakes de seriados dos anos 60/70 com roupagem de Matrix. Recomendo.
Saudades de akira? experimente Gunm – Alita Battle Angel
Ainda estou impressionado com este mangá, lançado pela Opera Graphica. Logo nas primeiras páginas, a primeira coisa que me veio à mente quando li foi Akira, de Katsuhiro Otomo. Não que um tenha se baseado no outro, mas ambos navegam com habilidade no perigoso terreno da “influência ocidental”, tanto na temática bladerunneriana quanto no ritmo e na arte mais “orgânica”, que se distancia do desenho “cartunesco” característico do mangá.
Se isso não bastar para atrair os não-viciados no gênero nipônico, também ajuda o fato de não ser uma edição “invertida”, i.e., a ordem de leitura das páginas é da esquerda para a direita (ao contrário de 99% dos mangás recentemente lançados no Brasil, que preservam as onomatopéias e a ordem de leitura originais, num misto de preciosismo e economia de custos).
Além disso, embora não seja a história completa de Alita, o volume de 260 páginas é, como diz a capa, uma saga completa. Isso faz uma diferença para os leitores escaldados com as sagas quilométricas do quadrinho japonês (ou mesmo com as histórias norte-americanas que nunca acabam).
E olha que eu ainda nem falei da história em si, que é muito bacana. A temática não é exatamente inédita: a sociedade é dividida entre duas castas – a privilegiada, que mora nas “cidades altas”, e outra, marginalizada, que vive em cidades como Scrap Yard, onde se passa a ação deste volume. Estes últimos dependem muito dos detritos orgânicos e tecnológicos abandonados pela casta superior, e entre eles existem não apenas humanos, mas também andróides como Alita, que… ah, tire os R$ 6,50 do bolso e descubra sozinho. Você não vai se arrepender.